sexta-feira, dezembro 27, 2013

Imprecisão do estilo

comecei o ano trocando cartas.
cartas loucas e rabiscadas

agora escrevo com cuidado
pequenos poeminhas
não gosto disso, por algum motivo
tudo muito certo,
uma tentativa de ser preciso
de ser "entendível"

mas está tudo um caos

minha mente é assombrada por pensamentos
escrevo e escrevo e muitas vezes não consigo dizer
Nada.

Passei as últimas horas pensando em como
escrever uma mensagem a alguém que acabei de conhecer
sem parecer um louco

Nada de "First thought, best thought"

cansei de tanto tentar dizer,
de tanto carregar as palavras
para nada...
para ser ignorado ou tido como
emocionalmente problemático

gosto de falar o que sinto
de falar da dor

muitas vezes a gente só sente isso.

mas quem quer ouvir um estranho na madrugada ?

os loucos e os drogados são legais apenas a distância

problemas problemas problemas

ninguém quer ter um,
mas todos se sentem protagonistas de alguma coisa
quando se imaginam caídos na sarjeta
ou quando acordam de ressaca.

Os coadjuvantes são menos importante
para quem se vê no centro do filme.

mas estamos todos aqui agora
e não acho que tenhamos chegado em
outro capítulo,
cena
ou
parágrafo.

Quando, escrevendo uma mensagem, Eu & Eu

Há este barulho na minha cabeça.
Ecos de pensamentos
Que se chocam uns contra os outros
E se partem;
Cujos os fragmentos
Me machucam de um jeito
Que só eu sei.

_____


Minha sorte.
Há algo com minha sorte
Não sei o que é,
Mas parece que ela muda
Sempre para a mesma.

____


Quando eu tento
Sei que lá no fundo
Há este algo,
Esta coisa,
Que me segura...
"Só há você mesmo aí!",
Eu penso.
Mas é sempre difícil
Ser mais forte
Na luta consigo mesmo.

domingo, dezembro 22, 2013

A distância

1

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio 
o flecha de claveles que propagan el fuego: 
te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma. 

_Pablo Neruda; Soneto XVII.


Sou incapaz de o elo cortar
para que eu me perca
para sempre de ti.

E a distância que já existe,
com medo de a aumentar,
me silencio,
recôndito,
para que ela
se mantenha
extática
como está.

_____________

2

Não te procuro,
assim como
tu não deverias
a mim se direcionar.

Aquilo que passou
fica retido no tempo.
barreira intransponível.

Não somos mais os dois –
aqueles dois.

A diferença é que
nos tornamos estranhos;
um ao outro.

Tento lhe alcançar em gesto,
mas tudo se desfaz em ilusão
como a fina superfície do rio;

Correndo incessantemente
para algum mar distante.

_____________

3

Terceiro:
Em aberto...

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Incômodo

Escrito em 05/04/13

Há algo me incomodando.
Nestes tempos de penúria já existem aqueles que ao se depararem com linhas de alguém como Cioran, não conseguem evitar de dizer: "nossa, quanto drama", "Aí, estou em outra vibe".
Bom, definitivamente obras como essas não foram escritas para tais pessoas, mas elas não se furtam à tanta anestesia mental e preguiça intelectual; antes, elas foram escritas exatamente contra estas pessoas: contra a vida estúpida que estas tantas produzem e fazem reproduzir: sua única contribuição para com a vida entre seus pares... é a única parte de si que têm a oferecer: o tédio, o vazio, a indiferença...
Reduzidos a isso, eles se contentam. Talvez consigam com isso viver de maneira razoável por, quem sabe, 20, 30, 40 anos mais?

a uma estranha 18/08

olá,

sou o A. e não lhe conheço – sou um estranho, isto é fato. e lendo isso, você pode escolher se quer continuar com a mensagem ou jogar estas linhas todas para o limbo.

bem, estando aqui, você pode não acreditar nisso, mas algumas pessoas deixam mensagens aleatórias para desconhecidos de vez em quando. Não porque elas esperam muita coisa, mas simplesmente para fugirem do tédio.
Não esperando nada, elas agem mesmo assim.

Não é absurdo ?

certa vez mencionei um trecho de uma poesia em uma destas "cartas-gesto", mas não deu muito certo... acredito que a intenção foi entendida como sendo "algo para impressionar" – o que não podia estar mais longe da realidade. De fato, há hoje algo que aproxima as entrevistas de emprego das relações pessoais. mas fujamos à isso.
compartilhar poesia é dividir um pouco daquilo que nós é mais íntimo, mas que também, ao mesmo tempo, diz respeito a muitos Outros.

(note que mesmo os pequenos poemas escritos por ermitões chineses do século 9, longe de tudo e de todos, como se fossem o registro de um breve sussurro, ainda permanecem por aí, como um grito ecoando por entre o tempo.)

porém, difícil é saber quem irá nos escutar... resta apenas lançar os dados.

Penso em Arthur Rimbaud; em Roberto Piva.

"Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como da planta da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, - nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! - as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, - Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua."
(Cidade, Rimbaud)

perdoe-me por não ser breve nem direto – mas por que haveria eu de o ser?

enfim. você pode responder ou – simplesmente – não.

Rascunhos e Notas sobre A Indiferença

De súbito
vem a perda,
a perda de interesse
em se comunicar.

Após algum tempo
me pergunto:
qual o ponto?
qual o meu interesse?

Perda de interesse
geral nas pessoas,
nos outros.

Mais do que isso:
o absurdo de
toda a ação
se revela
de súbito.

Ela não se mostra inútil,
mas absurda;
Toda essa gente
incapaz de uma simples troca.




Mensagem para M. :

Muitas vezes – em meio a uma mensagem – sinto, de súbito,
a perda completa da vontade de completar as palavras,
de dizer, de enviar a mensagem para a pessoa.
às vezes, se eu procuro alguém para conversar, ocorre o mesmo.
procuro, procuro, e então, vem essa não-vontade, e eu largo tudo.
vou embora sem dizer nada
Sinto como que seja uma perda de interesse nas pessoas em geral.


Resposta de M:

"O inferno são os outros"
"Os outros somos nós"



1
Sempre gostei de conhecer gente nova, mas tem se tornado tão difícil, tão desgastante.
Muitas pessoas são incapazes de se abrir para o acaso, elas mantêm uma proteção, como se não deixassem nunca seus próprios quartos. Sair na rua e um estranho lhe dirigir a palavra pode ser bastante incomodo nesses casos – ou alguém que lhe senta ao lado no ônibus ou no metrô é o inferno. O jovem médio lhe dirá isso. Mas, mesmo que ele não diga, é algo bastante evidente.

2
As únicas pessoas que, sem segundas intenções, conversam com estranhos na rua são os "loucos" e os idosos. E eles sempre falam de si mesmos e do mundo. Daquilo que eles fazem e do seu lugar no mundo. Eles dizem onde moram, sobre a dificuldade de dormir à noite, sobre a defasagem entre as suas ideias e aquilo que mundo oferece, isto é, falam sempre sobre a decadência geral que tomou conta do mundo: Eles possuem um método matemático melhor, o ensino é ruim, a moral decaiu e assim por diante. Em suma, eles falam sobre viver à margem – qualquer que ela seja. Eles falam sobre a sua relação com o mundo.

3
Um morador de rua, dentro de um ônibus, me contou sobre pegar latas para vender e ser expulso de onde dormia.
Uma senhora, em um ponto de ônibus, me contou sobre ser vigiada pela TV e sobre o agiota que a ameaçou de morte após ela o ter denunciado.
Um senhor, no caminho para o metrô, me contou sobre a decadência do "ensino pela memória" e sobre ter descoberto métodos matemáticos que as empresas americanas não quer que saibamos.
Alguém poderá dizer que eles vivem em "outra realidade", fora de uma "normalidade" pequeno burguesa, talvez isso explique um pouco essa necessidade que eles eles têm por contato humano, por se expressar.
Não sei dizer. Em um mundo de relações virtuais, eles ainda são capazes de valorizar o encontro fortuito, a presença de alguém. Em um desses sites de relacionamentos, onde todos estão virtualmente disponíveis 24 horas por dia, a presença e o encontro perdem importância. A qualquer hora somos acessíveis. É algo trivial; banal.

4
Alguns jovens que encontrei eram incapazes de falar de outra coisa que não fosse sobre eles mesmos. E suas palavras correm sem parar de suas bocas, tediosamente, copiosamente... De fato, eles poderiam estar ali falando sozinhos, a presença de alguém não se faz necessárias, pois não é uma conversa, não é uma troca. Eles não escutam, eles interrompem. Tudo volta a eles. O que posso dizer?

5
"Todo mundo é filho da puta, a menos que se prove o contrário". Ouvi isso de uma colega uma vez. É a demarcação perfeita da sensibilidade de um jovem médio: "As pessoas são mesquinhas, egoístas, mentirosas", "cheias de segundas intenções, querem se aproveitar facilmente dos outros e cair fora"; "O mundo é hostil e devemos nos fechar para não sofrermos", se "desapegar" das relações; "Pois tudo passa, até as dores". É a posição da indiferença. A "sensibilidade" da indiferença.
Você deve sempre dar a prova, convencer de que é digno de alguma atenção. Caso contrário, você é mais um babaca. "Vou abrir algumas vagas para quem quiser ser meu amigo, um reality show seria perfeito".

6
Após algum tempo, após tantos golpes, experiências ruins desilusões, é compreensível que muitos se fechem, cerceiem seus sentimentos e procurem apenas o contato mínimo, a dor mínima. Mas, isto não é de modo algum aceitável. Essa pessoas se tornam aquilo que elas mais detestam, aquilo que elas procuram evitar. São a realização da ideia do Outro que só machuca, indiferente para com os sentimentos dos outros. Incapazes de amar.

Sintoma da arte em 2013

Aqueles que se expressam com "arte"
não conseguem dizer nada
para além daquilo que sentem.

A poesia tornou-se relato:
Sinto-me mal.
É tudo.

Só existe o "eu",
o mundo está ausente.
Fragmentos e pedaços
é tudo o que se consegue formular.

Arte nada tem que ver com comunicação.
Mas eles mal sabem o que querem dizer.

Perdidos em si mesmos,
apenas vagam.

terça-feira, dezembro 17, 2013

cedo de manhã –
o dia mal começou;
talvez ainda não tenha
terminado.
eu sou aquele que morreu dez mil vezes

I am the one who died a thousand deaths


sexta-feira, dezembro 13, 2013

Mensagem não enviada para P.

Não é que você me faça mal, mas o tipo de comunicação que há entre nós me desgasta um pouco.
Um contato filtrado, que não pode passar de certo ponto... sem a inocência de um "querer conhecer".
Eu sempre tento não dizer demais, não perguntar demais. Medir as palavras.

Como quando você veio puxar conversa, e disse que estava chateada e tal, e eu pensei em telefonar – não por nada, era só pelo gesto – e você diz: "acho melhor não". você entende? Não estou reclamando, entendo suas razões e acho certo. Mas eu fico sem saber direito o que fazer, sem entender o que você espera de mim, das minhas mensagens.

Sabe, o meu blog é muito pessoal, você sabe bem, não faço propaganda, só o envio a uma quantidade limitadíssima de pessoas, e ainda sim eu penso muito antes de fazer isso. É um gesto muito singular. Sempre para criar proximidade – mais do que isso, é uma forma de criar ligação pela partilha de um sentimento de mundo.

Não é algo que eu queria que simplesmente seja lido e ouvir "manero, cara". Não. Você não comenta comigo o que está lá. Há coisas muito pesada que estão lá que ninguém sabe, mas estão claramente descritas. São os segredos, você precisa de algumas chaves para entender, mas eu não as dou. E está tudo tão exposto que se torna irreconhecível: escrevo para apagar meu nome.

Quando você me diz "leio suas coisas. me sinto como você, me sinto uma pária social". Eu não entendo a distância. Mas é porque eu quero cúmplices. É uma coisa minha. Estou em um momento onde ficar sozinho não é um problema; onde eu não quero ser amigo de todo mundo. Mas o que eu quero são relações que são como portos seguros; daquelas que você sabe que sempre estarão lá.

Não que eu ache que precisa ser sempre assim – eu não sou depressivo do soulseek, nem menininha do blogger. Mas agora é hora de cuidar dessas amizades, de as cultivar.

Quando eu digo que o amor é uma guerra, é também porque ele tem algo de urgência, de desespero: as pessoas vão ferrar com todo mundo que ficar pelo caminho, sem olhar para trás, nunca, até que finalmente encontrem alguém para chamar de "meu amor". É uma guerra de desejos de todos contra todos – mas os "objetos do desejo" são também outras pessoas.

Mas, o que eu queria dizer não é isso.

O que eu quero dizer é que está todo mundo buscando conforto em relações, mas que no meio do caminho, muita gente sai ferida pela indiferença, pelo esquecimento. É o assassinato pelo gesto, simbólico.

E eu estou para me formar. E já não é de agora: todo mundo vai embora. Até assustas. Acaba a faculdade é você vê que não formou aquele grupo intelectual, de amigos e etc que queria – bom, não como gostaria idealmente que fosse. E Agora é um momento decisivo para que eu fortifique um pouco o grupo que me restou.

Eu sempre fui minoria lá na faculdade: intelectualmente, na prática e no gosto. Lia o que não está na moda na área, fiz meu filme de maneira diversa dizendo coisas diversas das preocupações mais recorrentes, e – ainda por cima – tinha o pior repertório de todos: filme trash, podreira, filmes vagabundo... quando veio o cinema político, então, ficou pior ainda; não conseguia gostar de mais nada porque só via defeito.

Alguém poderia até achar que estou me gabando ou mesmo fazer algum elogio, mas a questão é que quando você não tem com quem dividir essas leituras e filmes, a discussão empobrece. Você tende a se tornar só um cara bizarro meio fora de tudo. Aí não dá.


Bom, agora que eu contei a história da minha vida, eu corto essa longa história em uma curta:


Você se reporta a alguma das coisas mais singulares em mim, mas mesmo assim, não se aproxima. Somos só duas caixas de texto no facebook. Não que você precise, mas é esse o meu incômodo – dado o meu atual sentimento de mundo.

Eu não curto ficar perto de quem não me quer por perto ou para quem tanto faz se sou eu ou qualquer outra pessoa. E eu fico em dúvida sobre quanto de esforço devo gastar com respostas para você. Entende? Eu não sei se você quer que eu gaste com você.

E o que eu estou buscando, de verdade, são pessoas com quem gastar toda esta força.
Não consigo simplesmente responder... Se acho que será em vão, fico em silêncio, distante.

Bom, é isso no que eu consigo pensar por enquanto. Espero que nada disso tenho soado inoportuno ou a deixado chateada. Não é para isso que eu escrevo.

Não sei explicar para mim mesmo, mas ainda gosto de você.



A.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Cinzas

Algumas vezes
até um poema
é pedir demais.

quarta-feira, novembro 27, 2013

meu trabalho incompleto

você
que deve agora
estar lendo
estas linhas

você pouco sabe...

bom
eu deveria lhe contar algo
que você não sabe
a respeito de si mesmo

este tem sido meu trabalho
escrevo sobre mim mesmo
para atingir você
para falar de nós

mas, não há "nós"

estou lhe dizendo
você não sabe
sobre a maioria das coisas
que se passam por aqui

só há "eu"

quarta-feira, novembro 06, 2013

It - aquilo

1

"se alienar da sua alienação", pensei comigo.
e então, eu entendi o como é fácil se enganar e perder uma tarde;
se perder em si mesmo e fingir uma tarde.


a busca pelo prazer imediato
em uma tarde ou uma noite.
isto ou aquilo
nada

desconforto agora e depois
dê um fim à isso, um passo para trás
e verás que está se debatendo no vazio.

Procrastinação infinita
e algo de culpa

turbilhão de ansiedade
dê o fora, cara
pare com isso

você sabe

quinta-feira, outubro 31, 2013

duas histórias

2

"Quando você entra num táxi, isso é guerra. Quando você compra um pão, é guerra. Quando você compra uma puta, é guerra. Às vezes eu preciso de pão, táxi e puta."
_Entra, sai e acaba; Numa Fria

"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."
_Braçadas para o meio do nada; Numa Fria

Bukowski



no amor, eles dizem, vale tudo
como na guerra.

o amor é a continuação da guerra por outros meios.
amor é guerra
amor é a guerra de todos contra todos

e aqueles que perdem a batalha
não merecem compaixão
ou clemência.


se é, ao mesmo tempo,
soldado e general;
estrategista e linha de frente.

os derrotados
são enterrados
no campo de batalha.
esquecidos e
deixados para trás


"é um longo caminho de volta
mas de volta pra onde?
o cara que vai na minha frente acaba de cair.
passo por cima dele.
será que ela também o acertou?"

terça-feira, outubro 22, 2013

(mais uma) noite lenta

.
.
.
minhas ilusões estouram antes mesmo de se formarem
quase nada
não dá nem mais para sentir coisa alguma

você fica em casa
coletando memórias
que não pode jogar fora
como naquele programa de tv

ouço a chuva

a brisa é fresca
ao menos

mas, o menor movimento é tão difícil
os olhos fitam o vazio
porque não há nada mais
só um corpo em pé.

a chuva aumenta
abaixo a música





não sei
é tudo tão
patético
faz qualquer sentimento
que se repete
tornar-se banal
não vale a pena falar
não é grande coisa

não vale o tempo
nem a dor

bom, não sou eu que digo isso
são as reações

telas brancas
e um papo furado


você me pede
para ir ver o mundo,
mas não há nada lá

era o que dizia um
garoto de 17 anos

faças as contas
estamos reduzidos a isso

os pensamentos terríveis costumam vir à noite, 
 o pôr-do-Sol é fatal

segunda-feira, agosto 19, 2013

A dor fala II







Isto é sobre a dor.
Há horas em que eu mal consigo formular uma frase de tão cansado; que mal consigo dizer o que eu tenho para dizer – o que eu sinto. Hoje vaguei durante uma hora pelas ruas antes de entrar no metrô e ir para a aula. Mas, como alguém vai entender isso? Não é algo que se conta para alguém, você  não pode simplesmente dizer: "ei, estou no inferno, cara."

sábado, agosto 17, 2013

As minhas fotos perdidas
As minhas imagens fora do lugar

ninguém sabe dizer quem é
ou quem sou
naquela na foto

ninguém em lugar algum
vendo meu rosto
sabe que ele a mim pertence

entre mil faces
a minha
não é a de ninguém

imagens minhas que não me pertencem


ninguém sabe qual é o meu rosto
ele não está nas fichas polícias
não está desaparecido
apenas não foi encontrado














créditos da foto (jornal qualquer)

domingo, agosto 04, 2013

Mensagem para alguém que não está lá.

sei de uma coisa – uma coisa somente –
sei que as mensagens pararam de correr por aqui.
e é tudo que sei.

Cansados de tudo partimos,
sozinhos, desamparados,
mas sem nunca chegar a lugar algum
– é o sentimento que nos acompanha.

será que partimos mesmo
ou apenas nos afundamos
mais e mais
em nossas próprias vida?

domingo, julho 14, 2013

notas notas notas um (1)

Minha cabeça está assombrada por pensamentos.

que maldição é estar sempre lúcido, sempre pensando.

sou uma maquina de pensar.


o esquecimento é algumas vezes necessário.
Cioran sabia bem o que queria dizer.

dormir é uma condição básica
seria impossível a vida sem o sono.

esquecer, ouvir o silêncio.

há um certo momento em que o contato excessivo com o real se torna traumático
ter de lidar o tempo todo com o peso do mundo
com a ideia de que somos responsáveis pelo que fazemos
saber que há muito a se fazer...

não podemos suportar a ideia de que somos, de certa forma, livres
responsáveis por fazermos algo com aquilo que fizeram de nós.

carta à J. (alguém que nunca me foi próximo); sábado, ‎9‎ de ‎março‎ de ‎2013


Não sei se posso concordar completamente com essa ideia dos amigos da faculdade. Já ouvi algo semelhante, mas era com "escola" no lugar.
De certo, é verdade, é um momento de transição. Muito do que você faz no período de faculdade, não será levado a diante. Como disse: experimentar. Porém, o mais importante permanece.

Sou leitor de alguns poetas e textos que escrevem sobre a melancolia decorrente da percepção do tempo como algo fugidio. Eles nos falam da finitude e do instante, da condição de vivermos sempre em momentos que irão irreversivelmente acabar – e não há nada a se fazer a respeito disso, a não ser aproveitar o pouco tempo que temos.
Não sou leitor da bíblia e sei que nossa geração, mais precisamente nossos pares, jovens cursando faculdades de arte e coisa e tal, também não o são. Temos alguma preguiça e preconceito contra isso, acredito eu. Mas há um texto com passagens formidáveis na bíblia, o Eclesiastes. Este é um texto desse tipo sobre o tempo, Leia:


Prólogo

 Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
 Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do Sol?
 Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O Sol se levanta, o Sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos.  Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr. Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir.
 O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do Sol. Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: Veja: isto é novo, ela já existia nos tempos passados. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles.
 Eu, o Eclesiastes, fui rei de Israel em Jerusalém. Apliquei meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do Sol, e eis: tudo vaidade e vento que passa.
 O que está curvado não se pode endireitar, e o que falta não se pode calcular.
 Eu disse comigo mesmo: "Eis que amontoei e acumulei mais sabedoria que todos os que me precederam em Jerusalém. Porque meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso é também vento que passa. Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e que aumenta a ciência, aumenta a dor".




Acho tão bonito esse trecho.
Bom, mas a filosofia do instante fugidio é também a filosofia do devir, onde nada nunca é; tudo é sempre um constante processo inacabado. Vamos nos fazendo pelo caminho, constantemente; e, se em algum momento pudermos dizer o que somos, já não seremos mais, pois este "eu' definível já terá ficado para trás.

Assim, fico em dúvida quanto aos amigos da faculdade. Ainda, há de se levar em consideração nossa condição moderna atual. Nossas vidas estão cada vez mais chatas e cada vez mais roteirizadas; definidas de antemão como serão – ao menos estruturalmente. Assim, talvez de fato isso seja uma triste verdade, e muitos de nós terão, de amigos, apenas os que ficaram da época da faculdade ou da escola. Precisaria pensar mais sobre isso. Mas talvez seja verdade, depois da faculdade, dificilmente teremos esse tipo de vivência e ambiente que permitam uma relação profunda de amizade entre pessoas...

é interessante isso de melhor amigo. É legal. Sim, também a mim, esses que se foram, não quero mais saber deles. É algo que ficou para trás. Eu já não sou mais o mesmo que foi amigo deles e eles já não são os amigos que eu tive. Não tem essa de em busca do tempo perdido, isso só trás desilusão e melancolia.
Seu ponto também é o meu. Não se trata de encontrar pessoas similares a nós, mas sim aqueles com uma sensibilidade próxima.

Carta a D. (7 de Maio de 2013)



você cortou sua fala bem no meio. Não acho chato ler isso, de forma alguma. É algo que eu sempre vou ouvir. Por experiência própria, aprendi a ouvir os outros – penso eu. Sei bem o que é essa sensação de falar sozinho. Tem aquela música, "um homem chamado alfredo", do cara que se mata de solidão e ninguém nem sabia o nome dele:

"Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê"

Sinto que, muitas vezes, ganha-se muito em não se buscar a companhia de ninguém, em ficar sozinho lendo um livro.

Quando você mais precisa de alguém, quando se está quase desesperado por uma conversa que seja, e você procurar isso, é aí que começa uma empreitada autodestrutiva.
Sim, eu escrevo há algum tempo já.
Bukowski escreveu uma vez: estas linhas que escrevo me afastam da loucura total. Cioran também disse algo próximo: uma obra é um suicídio adiado.
Talvez, por algum tempo, eu tenha escrito apenas para não deixar o ego morrer. E assim, escrevia para sentir que tinha alguma importância. E fiz isso para não ter que falar de mim para os outros.
Escrevo agora para organizar pensamentos, para entender o que eu sinto. Bom, no fundo ainda é para se manter.

E quanto às cartas, eu não sei como ou quando começou, talvez tenha sido apenas uma questão de percepção. Eu converso sozinho, e muitas vezes imagino que me dirijo à alguém, ou que estou em uma situação tal falando sobre algo específico para uma pessoa tal. É um dispositivo para o pensamento, algo que ajuda. Acho que um dia escrevi uma longa mensagem a alguém e mais adiante descobri que isso se assemelha bastante com a forma-carta.
Gosto de escrever um pensamento à alguém. Eu salvo algumas dessas mensagens que eu escrevo aos outros. Esta daqui eu vou salvar. Mas, sabe, nem sempre é bom mandar uma mensagem-carta aos outros. Tem gente que não tem/não quer dizer nada. E é insuportável mandar uma mensagem dessas, longa, trabalhada, e receber uma resposta indiferente. É muito desgastante – que tem a ver com tudo o que nós estamos falando.

"(...)Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, - nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! - as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, - Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua."

(Cidade, Arthur Rimbaud)

Carta à L., sem data. primeiro semestre de 2013


De uma certa forma, entendo bem o que você diz.
E, apesar de já ter falado muito sobre isso em cartas, é sempre difícil se expressar sobre. Posso lhe dizer que sinto algo assim também: um cansaço. Algumas noites a gente senta e está cansado de ter que continuar a "viajem", de ter que continuar essa espécie de busca por algo. Parece que a gente anda e anda sem nunca alcançar nada, sem nunca ter descanso. E tudo é tão fugidio: fogo, brasas depois cinzas.
E a gente, nós, os que ficam, ou melhor, nós que seguimos em frente, nos distanciando do que quer que tenha passado, sofremos, como se tudo resultasse sempre em dor. E então, começamos a tentar mudarmos nossos desejos, ou passamos a achar que não mais seremos pegos pelas armadilhas, pelas ilusões do mundo, que já entendemos a vida.... aí está outro engano.
Como diz a canção, "O mundo é um moinho".

De certa forma eu estou bem. Acho que estou cansado também.

Carta à L.



12/5/13

Foi bonito o que você disse. Confesso que às vezes procuro em vão pelas palavras, sem conseguir dizer muita coisa que faça sentido; sem nunca achar o emprego exato para um sentimento.
Gosto quando elas fazem sentido para mais alguém além de mim, pois as palavras que recebemos em troca... Bom, elas são bem mais do que um mero eco e menos do que um Norte, mas são uma forma de nos encontrarmos no mundo. Depois delas, nos sentimos um pouco menos solitário e um pouco menos desesperados.

Por vezes, não faltam sentimentos, mas parece que não há força nem vontade, que não há significado naquilo que dizemos ou escrevemos... e permanecemos em silêncio.

E você tem toda a razão no que diz: Há sempre alguma dor, mas é ela que rompe essa parede de indiferença e falta de sentido que nos cerca a todo momento, e nos torna mais sensíveis e criativos.
Bonito isso.

E não se preocupe, não pela demora. Eu gosto de lhe escrever e de ler suas respostas. Fico pensando aqui comigo, acho que seria legal ver um filme contigo.

nos falamos uma vez por telefone... ainda não sei quem você é



sonho com pessoas que não existem

ando sonhando com pessoas que não existem

uma vazio que se transforma, que assume forma


em meio á multidão nos encontramos
conhecemos profundamente um ao outro
ela sabe meu nome, mas não diz
eu não sei seu nome – ela não tem
alcanço sua mão, tão logo
somos inseparáveis

então, desperto
ela não existe

tão logo percebo que
não se trata de uma memória
mas de um sonho


Waiting (esperando)






enquanto andava pela cidade
perguntei:
qual é o meu nome?
como eu me chamo?
– mas ninguém soube responder

"Algumas vezes o facebook torna a solidão insuportável"

não consigo dizer coisa alguma
as palavras não se formam
ensaio, ensaio
e não digo nada

"Mortos ou coisa melhor"

e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio
mais alto que todos os sons

todos os sons não o podem preencher

então, eu espero
naquele lugar
esperando...

"waiting
again and again"

e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio,
um grande silêncio que vem de dentro.
como se eu mesmo houvesse me abandonado.

silêncio. silêncio que vem de dentro.
mais alto que todos os sons...
todos os sons não o podem preenchê-lo.

carta à D. 21/5/13 7:16


eu gosto de escrever de volta, de responder suas mensagens.
acho que é algo que me mantem um pouco menos loucos, menos indiferentes.
pode ser doloroso, difícil, mas se não fosse, talvez não seria suficiente; talvez nem valesse a "pena".
acabo por sempre gastar um bom tempo lhe escrevendo de volta – é o jeito para se responder verdadeiramente. preciso de algum tempo para pensar no que você disse e depois pensar no que vou dizer. então escrevo e depois leio, corrijo, adiciono algo, mudo uma frase. nunca fica perfeito, mas tenho que sentir que aquilo vale a pena ser dito. e, ultimamente, minha cabeça tem estado um tanto quanto bagunçada; com pensamentos fora do lugar... com lugares fora do pensamento. não sei. ao tentar lhe escrever, subitamente, aquilo tudo parecia inútil, sem sentido... vazio. A dificuldade em se formular uma frase... e todo aquele esforço pareceu em vão tão logo a mensagem parecia louca demais ou vazia demais.
estes são tempos estranhos; sem sentido, sem propósito. me sinto perdido em um vaguear inútil – onde é impossível se perder ou mesmo se encontrar.
estou aqui agora, ouvindo música e lhe escrevendo. estou um pouco doente, fisicamente falando.
hoje o dia está frio e chuvoso,  minha sorte é que poderei ficar em casa sozinho.

entendo. perdi uns eventos recentemente por causa das aulas e tal. depois eu procuro por gravações. e o willer depois conta no blog dele como foi. Mas, não é a mesma coisa. Bom, legal que esteja se dando bem no trabalho. é um bom sinal. e, pelo que conta, parece um ambiente legal. e, sim, gostaria de ouvir sobre suas ideias de performance, se quiser conversar qualquer hora, estarei aqui.

um beijo,
e até logo.

sábado, junho 22, 2013

Esse poema me segue
(ou será que persegue ?)

– insiste em ficar ou persiste em não ir ?

de qualquer forma, ele está aqui:

"Confession", por Charles Bukowski



sábado, junho 01, 2013

ponto: três peças.


I depart as air, I shake my white locks at the runaway sun,
I effuse my flesh in eddies, and drift it in lacy jags.

I bequeath myself to the dirt to grow from the grass I love,

If you want me again look for me under your bootsoles.

You will hardly know who I am or what I mean,

But I shall be good health to you nevertheless,
And filter and fibre your blood.

Failing to fetch me at first keep encouraged,

Missing me one place search another,
I stop somewhere waiting for you.

(Leaves of Grass, 3th version, 1860)




You will find me if you want me in the garden

unless it's pouring down with rain

You will find me waiting for spring and summer

You will find me waiting for the fall
You will find me waiting for the apples to ripen
You will find me waiting for them to fall
You will find me by the banks of all four rivers
You will find me at the spring of consciousness

You will find me if you want me in the garden

unless it's pouring down with rain


(Einstürzende Neubauten, The Garden)





Em segredo, todos esperamos ser encontrados ao pôr-do-Sol;


Mas tão logo a presença se faz ausência

Partimos; sempre. Partimos sem saber para onde
Buscando amparo pela estrada
Caminhando, por sorte, para um próximo ponto de encontro.

Quanto a mim 

Não espero que me procurem
nem que saibam quem sou, 
e, caso me encontrem, 
não saberão dizer meu nome.

quarta-feira, maio 29, 2013

28 de janeiro



O suicídio é como o fim da noite; 
o término da viajem noite a dentro.
é a calma das manhãs, 
a tranquilidade da 
– suposta – 
redenção.

Nada mais apropriado pra ouvir de manhã 

– pra quem ficou acordado de noite – 
do que Filmworks XIII, do John Zorn.



Invitation to a Suicide

Suicide Waltz


não consigo dizer coisa alguma.
as palavras não se formam.
ensaio ensaio
e não digo nada

"e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio, 
um grande silêncio que vem de dentro. 
como se eu mesmo houvesse me abandonado."

"silêncio. silêncio que vem de dentro. 
mais alto que todos os sons... 
todos os sons não o podem preenchê-lo"




De repente
eu estava lá outra vez,
naquele não-lugar.
Sem saber como ou exatamente o porquê
me encontrei lá
novamente.
Olhei para os lados
e me vi sozinho.
Ouvi o silêncio.

sábado, março 30, 2013

Carta para A.; sábado, ‎19‎ de ‎janeiro‎ de ‎2013


queria poder ter ao menos um breve lampejo sobre o que se passa nos teus pensamentos, Annie. vi você online, mas tive dúvidas se devia, mais uma vez, tentar puxar conversa; perguntar inocentemente "está acordada?"

damaris me disse que sou complexado. mesmo que eu seja, acho que essa fala não ajuda muito. Bom, já me disseram coisas piores – mas "sobre mim, eles não te dirão nada pior do que as coisas que eu posso lhe contar" (neruda)

não sei o que dizer. talvez se eu perguntar mais alguma coisa, você me diga algo tão pesado que me fará ficar quieto pra sempre. não queria isso. mas ao mesmo tempo, queria poder ouvir algo mais. mas estou aqui também. estou aqui nessa noite sem fim. Alguns nasceram para as noites sem fim (blake). posso aceitar isso.  e como diz a canção:

Nossa vida é uma viagem
No inverno e na noite,
Buscamos nossa passagem
No céu em que nada luz.


desculpe por lhe dizer isso tudo. parece até  algo desnecessário. quem saberia dizer? tento guardar alguns pensamentos – pra evitar julgamentos, dores e palavras de quem quer resolver tudo de maneira fácil. devo ter esse defeito de me importar demais e de querer ser muito sincero às vezes. não sei. E tampouco sei se irá dizer que faço muito drama. (Acho que pouco conversamos pra que qualquer coisa seja afirmada – nem eu posso afirmar nada.) mas a verdade é que fico incomodado, chateado, e etc. , por não conseguir de ti mais do que uma ou duas frases. e eu nem sei bem dizer o porquê disso.
como disse pra uma amiga, estou cansado, batido, mas não quero ser indiferente, anestesiado. não aceito essa vida ruim; sendo que cada momento que avança me deixa com menos "lugares" para onde ir. Talvez, no fundo, eu crie muitas expectativas pra tão somente ser desiludido depois.

Me perdoe por cada uma dessas palavras, mas eu queria verdadeiramente atravessar essa "barreira de silêncio". Prefiro que me diga que sou um sujeitinho irritante do que ter de carregar essa dúvida toda.

...

enfim, diga o que tiver que dizer – se quiser.

segunda-feira, março 25, 2013

Sorrow's Child


Próximo está 
E difícil de ser apreendido é o Deus, 
Mas, onde há perigo, cresce também 
O que salva. 
Na escuridão moram as águias, 
E sem medo caminham os 
Filhos dos Alpes por sobre o abismo 
E sobre pontes leves. 

Hölderlin






http://www.youtube.com/watch?v=04XZoknUPu4




River, rio.

O movimento incessante do tempo – o continuum do espaço-tempo, que não espera e que não retrocede.

Nada permanece puramente inalterado no decurso do tempo.


Contudo, há estados de espírito que nos intuem a pensar que tudo se move, menos nós mesmos – estaríamos fora do jogo, segundo essa percepção; suspensos do processo que é a vida.


mas é preciso ter em mente que até mesmo a tristeza mais profunda, aquela que nos encerra em outro tempo e espaço, alçados para fora da realidade, onde "apenas assistimos" passar o filme da vida, ela também se modifica com tempo; assumindo novas formas e novas sutilezas.


Sorrow's child grieves not what has passed
But all the past still yet to come

A repetição não deve ser entendida como o retorno do mesmo, mas, antes, como uma abertura, como a possibilidade para um novo desfecho.
Não podemos sentir duas vezes a mesma dor, mas não podemos nos tornar indiferentes às suas novas formas.
Um duplo da coisa não é nunca a coisa. Mudamos nós, muda a coisa.
Acreditar na repetição como um processo puro, é se perceber como um morto, impotente diante de um destino certo.

Por outro lado, buscar a coisa perdida, é também viver em ressentimento.


Nossos sonhos não devem ser nossas memórias.

segunda-feira, março 18, 2013

Nós, os mal-aventurados


"Science avec patience"



Que tempos estranhos são estes?
Aquele mesmo vazio – acho que ele já é uma parte minha
um parte que, faltando, se transformou em espaço.
Quando percebo, estou nele outra vez.
Como se tudo o mais fosse em vão.
Mas eu sei que não o é.
E Camille, Annie, elas estavam lá, aquilo tudo aconteceu.
Mas não foi minha falta se tudo acabou.
Alguma parte.
Mais uma vez é preciso dizer: não existe aquela pessoa,
ou aquele circulo de pessoas nos aguardando.
Esse é o grande ressentimento do nosso tempo.
Acredita-se nisso como se fosse um filme; é patético.
Posso dizer que fui a outros lugares,
e não encontrei nada que não conhecesse.
Já caminhei muito – engana-se quem pense que não.
Muito vi, muito conheci, e mais: muito conversei.
E nas linhas da desolação, nos abismo do tédio
Eu vi a nossa geração passar como quem troca de canal
Os mesmos daqui são os que caminham nas ruas,
Conhecia-os antes mesmo de os tocar.
Sua irrealidade é da mesma substância
Tão insossa quanto, e igualmente miserável.
Mas devo me incluir a eles?
Denunciá-los é esquecer-se de mim mesmo?
Há algo que nos liga a todos, mas há algo em ponto de ruptura.
Aqueles que me viram alto pelas ruas devem saber,
Minhas visões não são mortas,
memórias e sonhos
Ainda, devo dizer, estou cansado,
Verdadeiramente batido e com forças reduzidas
O mundo nos embrutece e nos tolhe a todos.
É impraticável uma vida que não se aprenda a se proteger
do sofrimento de toda esta deterioração
Aprendemos a nos proteger, aprendemos a ser indiferentes.
Mas não podemos nos entregar.
Difícil é imaginar beleza neste mundo horrível,
mas por que contribuir cinicamente com esta miséria?
Para não morrermos nos entregamos à morte em vida.
Que paradoxo estúpido e burro.
Por isso nos odiamos e nos estranhamos uns aos outros em toda parte
Deixamos de viver e procurando vida
dificilmente a encontraremos neste estado que é o nosso.
É preciso não se conformar cinicamente.
Odeio aqueles que assim se colocam de tão bom grado.
Resisto, mas não posso gastar toda uma vida assim
é preciso avançar, é preciso de cumplicidade
Que terrível busca
Envelheci muito em 4 anos
Calejado pelo tempo, já não somos tão sensíveis à vida
Algumas experiências não nos aprazem tanto
Outras perderam momentaneamente o significado
Seguirei, porém, neste caminho
Sem rumo e sem coordenadas
Já não sei aonde me dirijo – se é que me dirijo para algum lugar
As perspectivas são escassas; a situação é catastrófica
Mas não é grave.
Escrevo, contudo.
Minha impertinência ainda me levará a algum lugar.
Isto não deve ser dito com esperança,
mas apenas com alguma lógica.


"E, ao amanhecer, armados de uma ardente paciência, adentraremos na cidade esplêndida"

sexta-feira, março 15, 2013

“la suite était déjá contenu dans le commencement de ce voyage”.

"Não se cale porque estou diante de ti como um estrangeiro e um viajante.
Conceda-me algum repouso antes que eu parta e não esteja mais aqui."

sábado, março 09, 2013

exercício


Há um escritor romeno, o Cioran, que diz: usar palavras é sempre uma loucura – qualquer uma delas.

é como se ele dissesse que tentar se expressar (com palavras) é sempre um ato arriscado. É loucura tentar se fazer entender – será isso que ele quer dizer ?

é uma interpretação minha, é a forma como leio.

Li a seguinte frase há pouco:

"Pour savoir écrire, il faut avoir lu, et pour savoir lire, il faut savoir vivre." (Debord)

Para se saber escrever, é preciso saber ler; e para saber ler é preciso saber viver.

Uma possível análise dessa frase nos diria que a vivência, a nossa, é significante – isto é, ela é criadora de significados. Nossa experiência nos dá, em certo aspecto, sentidos de como ler um "texto".

Quando Cioran diz que tentar se expressar é uma loucura, lembro dos textos que escrevi para tentar me explicar para alguém, lembro desses "atos". Se explicar, se fazer entender, dar sentido... Mas é como se a cada nova palavra, cada nova linha, você causasse apenas mais ruídos; como se as palavras nos traíssem. Isso não é um pouco angustiante ?

Quando em alguns desses atos, você se eviscera diante da pessoas para tão somente sentir que fostes mal compreendido, que foi em vão... não é terrível ? E, então, pensamos pelos outros:  "ao lhe verem fraco, pensarão que você é fraco". E, com certa vergonha, nos recolhemos novamente para o interior da torre; cada vez mais ao alto.

terça-feira, fevereiro 26, 2013

A segunda parte da noite

Lembranças de um texto perdido.



Estávamos entrando em um quarto. 220. Tentamos fingir ser um casal para o recepcionista liberar uma vaga para nós dois. Abrigo para um "casal respeitável" vítima do rodízio.

Ele ficou com nossos RG. Nunca tapearíamos a polícia. Mas não foi preciso. Não éramos marginais como Jean Genet.

Estou puto por ter que reescrever algo que não mais poderá ser escrito por mim.

Mas estávamos lá naquelas noite. Ela me levou até aquele hotel e disse para fingirmos ser um casal para conseguirmos vagas. Ri da ideia, mas me diverti. Ser cúmplice e alguém, tapear o mundo para benefício próprio. Acabou sendo apenas um detalhe, mas significou muito para mim. Sem falar que eu mal soube responder o que ela me perguntou sobre horários de rodízio para tapearmos o cara. Mas foi muito engraçado. Auto-sabotagem. "O mundo está todo contra nós, você sabe disso, cara. E estamos nessa juntos".

Era algo assim que estava escrito.

Momento antes eu estava sentado na mureta de uma jardineira de esquina, esperando ela comprar algo em uma farmácia. O que eu estava fazendo ali? eu não sabia ao certo. Só conseguia pensar em mil coisas para além daquele momento. Tcc, poesia, allen ginsberg, ler poesia em voz alta no meio da rua. Pode dizer que sou ingênuo. Nunca imagino que alguém quer me levar para um quarto de hotel. E foi tudo tão rápido. Saímos do bar, ela me beijando, corremos para atravessar a rua...

Lá estava eu, bravo com algo que eu não sabia o que era. Fumando o cigarro dela enquanto ela ia ao banheiro. Estava completamente cheio de cerveja. Ela me comprou uma dose de cachaça. Não sei se foi de propósito, mas vomitei tudo no banheiro. Depois disso, acho que foi um refrigerante e, então, beijos loucos e indisciplinados. Disse a ela algo sobre fumar cigarro pelo canto da boca, rolling stones. Ela tirou meu cigarro e jogou dentro das grades que nos separavam do esgoto. Reflexos de bêbado mal servem para defender o próprio cigarro.

E foi assim que começou a segunda parte da noite.

Ela me beijava com vontade e me arrastava para um destino incerto. Achei que ia ser jogado no metrô. De volta pra casa. Não sei quantas vezes segurei sua mão e a puxei de encontro à parede para nos beijarmos. Era como um filme. Disse "Camille, Camille". Ela ria enquanto atravessávamos a avenida correndo. Com piadas minhas; citando aquela cançao: se um caminhão de 10 toneladas nos atropelasse agora, seria uma honra morrer ao teu lado. E ríamos de tudo.

Então estava lá, sentado. Esperando por ela. Perto do Copan, perto do Walden, perto do centro.

Ela havia gasto muito dinheiro com músicas, pra dançarmos bêbados naquele segundo andar.
Cervejas e cervejas. Me agachei até o lixo e disse, terrível, terrível. "Não, está tudo bem".
Ela me beijou depois que eu vomitei duas vezes. Eu teria feito o mesmo.

Ela então pegou minha mãe e adentramos as ruas escuras. Bares feios, rua suja. Boca do lixo? Entramos no hotel.
Pegamos a chave e deixamos nossos documentos com o cara. A chave não queria abrir a porta.
Detalhes estúpidos.

A próxima cena de que me lembro é a de estarmos nos beijando no chão do banheiro.
A cena mais bela em muito tempo.


A terceira parte foi feita de conversas, abraços e beijos. e algumas outras coisas.

Acordamos.

Chovia. Nenhum de nós queria ter que sair.

Fomos ao Lótus comer.

Chovia mais ainda.

Caminhamos separados até o metrô.

Sabia que nunca mais a veria.

"I depart as (thin) air" [eterno rascunho]

Sobre a passagem de algumas pessoas através de uma unidade curta de Tempo.

O que lhe direi agora?
Somos estranhos novamente.
Não o sei.


Alguns buscam sentido para suas vidas.
É uma vontade justa
Já que ninguém pediu para estar aqui
Buscamos nos explicar;
sempre é mais fácil a dois.
Mas quem se entende?
Quem se entende no final
          verdadeiramente?

Alguns me diriam agora:
"Não há nada o que explicar"
"Não há nada o que entender"

Mas não posso deixar de escrever
Não escuto mais esse tipo de conselho
        de pessoas indiferentes.
Penso muito, sinto mais ainda
        e sei que é sincero
Já esperei tempo demais.
Minhas memórias e sonhos
         são as muralhas que me afastam da morte.
Mas não posso viver deles.
Esta vida é terrível, é verdade
&
Nossos sonhos são as potências que carregamos
Não podemos deixar que eles se alimentem de nós.

"Não fomos feitos para este Mundo"

De qualquer forma, estamos aqui.
Temos que dar um jeito.
Dizer se a vida vale a pena ou não ser vivida
        não é a pergunta primeira a ser respondia.
Ainda que importante.
Precismos, antes, responder à todas as outras questões
para podermos responder à essa.
É uma pergunta que se responde aos poucos
            a cada dia
           a cada noite

Muitas vezes, não se matar é a maior das comodidades.
Fingir que não há nada de errado para se manter razoável
          – por algumas décadas...

Mas a vida não é nem mesmo razoável.
Olhe:
        por um punhado de reais você pode matar uma tarde
        nada mais que isso.

O tempo perdido não volta
Mas os tempos mortos permanecem

Você deu sentido àquela noite
Isso é mais do que alguns conseguem
          depois de toda uma vida.
Não poderia ter tido melhor companhia.

Mas quero dizer para que não se preocupe
Não quero isso... não por minha causa.
Está tudo bem.
&
Foi tudo incrível, até mesmo a tristeza;
Lhe direi que
Não devemos nos arrepender de nada

Belo como um sonho, belo como um filme.

Ainda mais por ter sido real.

Um instante entre as rachaduras do real.


Quero que saiba que não esqueço.
– As memórias belas devem permanecer.
É o que guardamos dessa fogueira que é a existência.

A vida é esse fogo que consome a si mesma:
           Chamas:
                         um braseiro, então cinzas.


Partiremos, então – os dois.
Sem nunca olhar para trás.

Adeus




Uma nota:

Agora que tudo se foi, é impossível retomar a escrita destas linhas sem as trair ou as corromper com este presente. São palavras e sentimentos que pertencem a um passado e, como uma mensagem que se dirigia para alguém que não está mais nem "ici et ailleurs", que não tem mais a mesma presença de antes, é impossível retomar a escrita, ela ficará incompleta para sempre.

Como eu mesmo disse para a pessoa a quem estas linhas se dirigiriam originalmente: É trágico quando cartas enviadas são perdidas, mas as que ficam, as que não são enviadas é que são as grandes desgraças.

Tenho algumas. Livros, cartas, mensagens, poemas. Eles permanecem comigo, e apenas eu saei, apenas eu tenho que lembrar. O que fazer? Entregar a outra pessoa ? Seria uma traição. Perca por aí ou entregue à um desconhecido.

É o que estou fazendo.

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Sobre a passagem...


Como diz o filme:

Nossa vida é uma viajem,
No inverno e na noite;
Buscamos nossa passagem
No céu que nada luz.

Somos como crianças perdidas na noite;
Condenados a viver nossas vidas incompletas.
É tarde demais, tarde demais para querer
Tornar-se um adulto.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013


A esperança é o primeiro sinal da derrota.

In Heaven, everything is fine.

You got your good things and I got mine.

Não é esta a perfeita canção do desespero?

Da ilusão que se auto nega?
"Tudo ficará bem, pois nada está bem."


https://www.youtube.com/watch?v=s2WhbTyvLYU

domingo, fevereiro 10, 2013

these days 0

Camille,

"Il pleut doucement sur la ville"
(Rimbaud)

these days


Penso em umas mil coisas ao mesmo tempo;
não consigo dizer nenhuma delas sem passar a outra
e me perder.

Chove sobre meu coração,
é verdade.
Mas é uma chove doce;
uma chuva que me distancia da morte.

"camila, camila."

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Camille

Para C. , segundo Lorca


"Tua lembrança não leves.
deixa-a sozinha em meu peito

Um muro de sonhos maus 
me afasta dos que morreram. 

Mas deixa tua lembrança, 

deixa-a sozinha em meu peito."





Uma parede de sonhos nos separa
&
Somente a chuva é real
Ela, única, a que me separa da morte.

domingo, fevereiro 03, 2013

regravar haikais americanos

queria me importar menos
com o teu silêncio
Uma tarde é o suficiente 
para ficar louco
lembro que me disse
que estava feliz, tenho medo
que diga que agora já não precisas
mais de mim

domingo, janeiro 27, 2013

Convite


Onde estão as palavras agora?
Foi um belo convite.
Mas as palavras já não nos servem pra muita coisa.
Tão difícil se fazer entender – por que tem que ser assim?
É preciso tempo. É o que tenho a dizer.
Talvez as cartas nunca cheguem e o telefone nunca toque,
Mas, não os espere; não conte com eles.
A viajem é longa. E é sempre noite; sempre frio.


Você teve minha companhia,
Mas eu nunca tive a sua.

https://www.youtube.com/watch?v=dIu0GN-jEDQ



Lembro de tua mão naquela noite.
Como em um sonho,
Um outro tempo.
A segurei pra não a perder;
para não nos separarmos.
Mas eu devia saber.
Devia saber que éramos estranhos;
Que continuaríamos estranhos.

Foi o lampejo que eu pedi.
Não sabia que duraria tão pouco.

E mesmo hoje, não nos reconheceríamos
se cruzássemos na rua,
se deitássemos na linha do trem,
se tomássemos café.

Você nunca ira entender
o que significou para mim.
Um dia, talvez...