terça-feira, fevereiro 26, 2013

A segunda parte da noite

Lembranças de um texto perdido.



Estávamos entrando em um quarto. 220. Tentamos fingir ser um casal para o recepcionista liberar uma vaga para nós dois. Abrigo para um "casal respeitável" vítima do rodízio.

Ele ficou com nossos RG. Nunca tapearíamos a polícia. Mas não foi preciso. Não éramos marginais como Jean Genet.

Estou puto por ter que reescrever algo que não mais poderá ser escrito por mim.

Mas estávamos lá naquelas noite. Ela me levou até aquele hotel e disse para fingirmos ser um casal para conseguirmos vagas. Ri da ideia, mas me diverti. Ser cúmplice e alguém, tapear o mundo para benefício próprio. Acabou sendo apenas um detalhe, mas significou muito para mim. Sem falar que eu mal soube responder o que ela me perguntou sobre horários de rodízio para tapearmos o cara. Mas foi muito engraçado. Auto-sabotagem. "O mundo está todo contra nós, você sabe disso, cara. E estamos nessa juntos".

Era algo assim que estava escrito.

Momento antes eu estava sentado na mureta de uma jardineira de esquina, esperando ela comprar algo em uma farmácia. O que eu estava fazendo ali? eu não sabia ao certo. Só conseguia pensar em mil coisas para além daquele momento. Tcc, poesia, allen ginsberg, ler poesia em voz alta no meio da rua. Pode dizer que sou ingênuo. Nunca imagino que alguém quer me levar para um quarto de hotel. E foi tudo tão rápido. Saímos do bar, ela me beijando, corremos para atravessar a rua...

Lá estava eu, bravo com algo que eu não sabia o que era. Fumando o cigarro dela enquanto ela ia ao banheiro. Estava completamente cheio de cerveja. Ela me comprou uma dose de cachaça. Não sei se foi de propósito, mas vomitei tudo no banheiro. Depois disso, acho que foi um refrigerante e, então, beijos loucos e indisciplinados. Disse a ela algo sobre fumar cigarro pelo canto da boca, rolling stones. Ela tirou meu cigarro e jogou dentro das grades que nos separavam do esgoto. Reflexos de bêbado mal servem para defender o próprio cigarro.

E foi assim que começou a segunda parte da noite.

Ela me beijava com vontade e me arrastava para um destino incerto. Achei que ia ser jogado no metrô. De volta pra casa. Não sei quantas vezes segurei sua mão e a puxei de encontro à parede para nos beijarmos. Era como um filme. Disse "Camille, Camille". Ela ria enquanto atravessávamos a avenida correndo. Com piadas minhas; citando aquela cançao: se um caminhão de 10 toneladas nos atropelasse agora, seria uma honra morrer ao teu lado. E ríamos de tudo.

Então estava lá, sentado. Esperando por ela. Perto do Copan, perto do Walden, perto do centro.

Ela havia gasto muito dinheiro com músicas, pra dançarmos bêbados naquele segundo andar.
Cervejas e cervejas. Me agachei até o lixo e disse, terrível, terrível. "Não, está tudo bem".
Ela me beijou depois que eu vomitei duas vezes. Eu teria feito o mesmo.

Ela então pegou minha mãe e adentramos as ruas escuras. Bares feios, rua suja. Boca do lixo? Entramos no hotel.
Pegamos a chave e deixamos nossos documentos com o cara. A chave não queria abrir a porta.
Detalhes estúpidos.

A próxima cena de que me lembro é a de estarmos nos beijando no chão do banheiro.
A cena mais bela em muito tempo.


A terceira parte foi feita de conversas, abraços e beijos. e algumas outras coisas.

Acordamos.

Chovia. Nenhum de nós queria ter que sair.

Fomos ao Lótus comer.

Chovia mais ainda.

Caminhamos separados até o metrô.

Sabia que nunca mais a veria.

"I depart as (thin) air" [eterno rascunho]

Sobre a passagem de algumas pessoas através de uma unidade curta de Tempo.

O que lhe direi agora?
Somos estranhos novamente.
Não o sei.


Alguns buscam sentido para suas vidas.
É uma vontade justa
Já que ninguém pediu para estar aqui
Buscamos nos explicar;
sempre é mais fácil a dois.
Mas quem se entende?
Quem se entende no final
          verdadeiramente?

Alguns me diriam agora:
"Não há nada o que explicar"
"Não há nada o que entender"

Mas não posso deixar de escrever
Não escuto mais esse tipo de conselho
        de pessoas indiferentes.
Penso muito, sinto mais ainda
        e sei que é sincero
Já esperei tempo demais.
Minhas memórias e sonhos
         são as muralhas que me afastam da morte.
Mas não posso viver deles.
Esta vida é terrível, é verdade
&
Nossos sonhos são as potências que carregamos
Não podemos deixar que eles se alimentem de nós.

"Não fomos feitos para este Mundo"

De qualquer forma, estamos aqui.
Temos que dar um jeito.
Dizer se a vida vale a pena ou não ser vivida
        não é a pergunta primeira a ser respondia.
Ainda que importante.
Precismos, antes, responder à todas as outras questões
para podermos responder à essa.
É uma pergunta que se responde aos poucos
            a cada dia
           a cada noite

Muitas vezes, não se matar é a maior das comodidades.
Fingir que não há nada de errado para se manter razoável
          – por algumas décadas...

Mas a vida não é nem mesmo razoável.
Olhe:
        por um punhado de reais você pode matar uma tarde
        nada mais que isso.

O tempo perdido não volta
Mas os tempos mortos permanecem

Você deu sentido àquela noite
Isso é mais do que alguns conseguem
          depois de toda uma vida.
Não poderia ter tido melhor companhia.

Mas quero dizer para que não se preocupe
Não quero isso... não por minha causa.
Está tudo bem.
&
Foi tudo incrível, até mesmo a tristeza;
Lhe direi que
Não devemos nos arrepender de nada

Belo como um sonho, belo como um filme.

Ainda mais por ter sido real.

Um instante entre as rachaduras do real.


Quero que saiba que não esqueço.
– As memórias belas devem permanecer.
É o que guardamos dessa fogueira que é a existência.

A vida é esse fogo que consome a si mesma:
           Chamas:
                         um braseiro, então cinzas.


Partiremos, então – os dois.
Sem nunca olhar para trás.

Adeus




Uma nota:

Agora que tudo se foi, é impossível retomar a escrita destas linhas sem as trair ou as corromper com este presente. São palavras e sentimentos que pertencem a um passado e, como uma mensagem que se dirigia para alguém que não está mais nem "ici et ailleurs", que não tem mais a mesma presença de antes, é impossível retomar a escrita, ela ficará incompleta para sempre.

Como eu mesmo disse para a pessoa a quem estas linhas se dirigiriam originalmente: É trágico quando cartas enviadas são perdidas, mas as que ficam, as que não são enviadas é que são as grandes desgraças.

Tenho algumas. Livros, cartas, mensagens, poemas. Eles permanecem comigo, e apenas eu saei, apenas eu tenho que lembrar. O que fazer? Entregar a outra pessoa ? Seria uma traição. Perca por aí ou entregue à um desconhecido.

É o que estou fazendo.

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Sobre a passagem...


Como diz o filme:

Nossa vida é uma viajem,
No inverno e na noite;
Buscamos nossa passagem
No céu que nada luz.

Somos como crianças perdidas na noite;
Condenados a viver nossas vidas incompletas.
É tarde demais, tarde demais para querer
Tornar-se um adulto.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013


A esperança é o primeiro sinal da derrota.

In Heaven, everything is fine.

You got your good things and I got mine.

Não é esta a perfeita canção do desespero?

Da ilusão que se auto nega?
"Tudo ficará bem, pois nada está bem."


https://www.youtube.com/watch?v=s2WhbTyvLYU

domingo, fevereiro 10, 2013

these days 0

Camille,

"Il pleut doucement sur la ville"
(Rimbaud)

these days


Penso em umas mil coisas ao mesmo tempo;
não consigo dizer nenhuma delas sem passar a outra
e me perder.

Chove sobre meu coração,
é verdade.
Mas é uma chove doce;
uma chuva que me distancia da morte.

"camila, camila."

sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Camille

Para C. , segundo Lorca


"Tua lembrança não leves.
deixa-a sozinha em meu peito

Um muro de sonhos maus 
me afasta dos que morreram. 

Mas deixa tua lembrança, 

deixa-a sozinha em meu peito."





Uma parede de sonhos nos separa
&
Somente a chuva é real
Ela, única, a que me separa da morte.

domingo, fevereiro 03, 2013

regravar haikais americanos

queria me importar menos
com o teu silêncio
Uma tarde é o suficiente 
para ficar louco
lembro que me disse
que estava feliz, tenho medo
que diga que agora já não precisas
mais de mim