sexta-feira, dezembro 27, 2013

Imprecisão do estilo

comecei o ano trocando cartas.
cartas loucas e rabiscadas

agora escrevo com cuidado
pequenos poeminhas
não gosto disso, por algum motivo
tudo muito certo,
uma tentativa de ser preciso
de ser "entendível"

mas está tudo um caos

minha mente é assombrada por pensamentos
escrevo e escrevo e muitas vezes não consigo dizer
Nada.

Passei as últimas horas pensando em como
escrever uma mensagem a alguém que acabei de conhecer
sem parecer um louco

Nada de "First thought, best thought"

cansei de tanto tentar dizer,
de tanto carregar as palavras
para nada...
para ser ignorado ou tido como
emocionalmente problemático

gosto de falar o que sinto
de falar da dor

muitas vezes a gente só sente isso.

mas quem quer ouvir um estranho na madrugada ?

os loucos e os drogados são legais apenas a distância

problemas problemas problemas

ninguém quer ter um,
mas todos se sentem protagonistas de alguma coisa
quando se imaginam caídos na sarjeta
ou quando acordam de ressaca.

Os coadjuvantes são menos importante
para quem se vê no centro do filme.

mas estamos todos aqui agora
e não acho que tenhamos chegado em
outro capítulo,
cena
ou
parágrafo.

Quando, escrevendo uma mensagem, Eu & Eu

Há este barulho na minha cabeça.
Ecos de pensamentos
Que se chocam uns contra os outros
E se partem;
Cujos os fragmentos
Me machucam de um jeito
Que só eu sei.

_____


Minha sorte.
Há algo com minha sorte
Não sei o que é,
Mas parece que ela muda
Sempre para a mesma.

____


Quando eu tento
Sei que lá no fundo
Há este algo,
Esta coisa,
Que me segura...
"Só há você mesmo aí!",
Eu penso.
Mas é sempre difícil
Ser mais forte
Na luta consigo mesmo.

domingo, dezembro 22, 2013

A distância

1

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio 
o flecha de claveles que propagan el fuego: 
te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma. 

_Pablo Neruda; Soneto XVII.


Sou incapaz de o elo cortar
para que eu me perca
para sempre de ti.

E a distância que já existe,
com medo de a aumentar,
me silencio,
recôndito,
para que ela
se mantenha
extática
como está.

_____________

2

Não te procuro,
assim como
tu não deverias
a mim se direcionar.

Aquilo que passou
fica retido no tempo.
barreira intransponível.

Não somos mais os dois –
aqueles dois.

A diferença é que
nos tornamos estranhos;
um ao outro.

Tento lhe alcançar em gesto,
mas tudo se desfaz em ilusão
como a fina superfície do rio;

Correndo incessantemente
para algum mar distante.

_____________

3

Terceiro:
Em aberto...

quinta-feira, dezembro 19, 2013

Incômodo

Escrito em 05/04/13

Há algo me incomodando.
Nestes tempos de penúria já existem aqueles que ao se depararem com linhas de alguém como Cioran, não conseguem evitar de dizer: "nossa, quanto drama", "Aí, estou em outra vibe".
Bom, definitivamente obras como essas não foram escritas para tais pessoas, mas elas não se furtam à tanta anestesia mental e preguiça intelectual; antes, elas foram escritas exatamente contra estas pessoas: contra a vida estúpida que estas tantas produzem e fazem reproduzir: sua única contribuição para com a vida entre seus pares... é a única parte de si que têm a oferecer: o tédio, o vazio, a indiferença...
Reduzidos a isso, eles se contentam. Talvez consigam com isso viver de maneira razoável por, quem sabe, 20, 30, 40 anos mais?

a uma estranha 18/08

olá,

sou o A. e não lhe conheço – sou um estranho, isto é fato. e lendo isso, você pode escolher se quer continuar com a mensagem ou jogar estas linhas todas para o limbo.

bem, estando aqui, você pode não acreditar nisso, mas algumas pessoas deixam mensagens aleatórias para desconhecidos de vez em quando. Não porque elas esperam muita coisa, mas simplesmente para fugirem do tédio.
Não esperando nada, elas agem mesmo assim.

Não é absurdo ?

certa vez mencionei um trecho de uma poesia em uma destas "cartas-gesto", mas não deu muito certo... acredito que a intenção foi entendida como sendo "algo para impressionar" – o que não podia estar mais longe da realidade. De fato, há hoje algo que aproxima as entrevistas de emprego das relações pessoais. mas fujamos à isso.
compartilhar poesia é dividir um pouco daquilo que nós é mais íntimo, mas que também, ao mesmo tempo, diz respeito a muitos Outros.

(note que mesmo os pequenos poemas escritos por ermitões chineses do século 9, longe de tudo e de todos, como se fossem o registro de um breve sussurro, ainda permanecem por aí, como um grito ecoando por entre o tempo.)

porém, difícil é saber quem irá nos escutar... resta apenas lançar os dados.

Penso em Arthur Rimbaud; em Roberto Piva.

"Sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das mobílias e do exterior das casas bem como da planta da cidade. Aqui você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim! Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma estatística louca encontrou para os povos do continente. Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, - nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! - as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, - Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua."
(Cidade, Rimbaud)

perdoe-me por não ser breve nem direto – mas por que haveria eu de o ser?

enfim. você pode responder ou – simplesmente – não.

Rascunhos e Notas sobre A Indiferença

De súbito
vem a perda,
a perda de interesse
em se comunicar.

Após algum tempo
me pergunto:
qual o ponto?
qual o meu interesse?

Perda de interesse
geral nas pessoas,
nos outros.

Mais do que isso:
o absurdo de
toda a ação
se revela
de súbito.

Ela não se mostra inútil,
mas absurda;
Toda essa gente
incapaz de uma simples troca.




Mensagem para M. :

Muitas vezes – em meio a uma mensagem – sinto, de súbito,
a perda completa da vontade de completar as palavras,
de dizer, de enviar a mensagem para a pessoa.
às vezes, se eu procuro alguém para conversar, ocorre o mesmo.
procuro, procuro, e então, vem essa não-vontade, e eu largo tudo.
vou embora sem dizer nada
Sinto como que seja uma perda de interesse nas pessoas em geral.


Resposta de M:

"O inferno são os outros"
"Os outros somos nós"



1
Sempre gostei de conhecer gente nova, mas tem se tornado tão difícil, tão desgastante.
Muitas pessoas são incapazes de se abrir para o acaso, elas mantêm uma proteção, como se não deixassem nunca seus próprios quartos. Sair na rua e um estranho lhe dirigir a palavra pode ser bastante incomodo nesses casos – ou alguém que lhe senta ao lado no ônibus ou no metrô é o inferno. O jovem médio lhe dirá isso. Mas, mesmo que ele não diga, é algo bastante evidente.

2
As únicas pessoas que, sem segundas intenções, conversam com estranhos na rua são os "loucos" e os idosos. E eles sempre falam de si mesmos e do mundo. Daquilo que eles fazem e do seu lugar no mundo. Eles dizem onde moram, sobre a dificuldade de dormir à noite, sobre a defasagem entre as suas ideias e aquilo que mundo oferece, isto é, falam sempre sobre a decadência geral que tomou conta do mundo: Eles possuem um método matemático melhor, o ensino é ruim, a moral decaiu e assim por diante. Em suma, eles falam sobre viver à margem – qualquer que ela seja. Eles falam sobre a sua relação com o mundo.

3
Um morador de rua, dentro de um ônibus, me contou sobre pegar latas para vender e ser expulso de onde dormia.
Uma senhora, em um ponto de ônibus, me contou sobre ser vigiada pela TV e sobre o agiota que a ameaçou de morte após ela o ter denunciado.
Um senhor, no caminho para o metrô, me contou sobre a decadência do "ensino pela memória" e sobre ter descoberto métodos matemáticos que as empresas americanas não quer que saibamos.
Alguém poderá dizer que eles vivem em "outra realidade", fora de uma "normalidade" pequeno burguesa, talvez isso explique um pouco essa necessidade que eles eles têm por contato humano, por se expressar.
Não sei dizer. Em um mundo de relações virtuais, eles ainda são capazes de valorizar o encontro fortuito, a presença de alguém. Em um desses sites de relacionamentos, onde todos estão virtualmente disponíveis 24 horas por dia, a presença e o encontro perdem importância. A qualquer hora somos acessíveis. É algo trivial; banal.

4
Alguns jovens que encontrei eram incapazes de falar de outra coisa que não fosse sobre eles mesmos. E suas palavras correm sem parar de suas bocas, tediosamente, copiosamente... De fato, eles poderiam estar ali falando sozinhos, a presença de alguém não se faz necessárias, pois não é uma conversa, não é uma troca. Eles não escutam, eles interrompem. Tudo volta a eles. O que posso dizer?

5
"Todo mundo é filho da puta, a menos que se prove o contrário". Ouvi isso de uma colega uma vez. É a demarcação perfeita da sensibilidade de um jovem médio: "As pessoas são mesquinhas, egoístas, mentirosas", "cheias de segundas intenções, querem se aproveitar facilmente dos outros e cair fora"; "O mundo é hostil e devemos nos fechar para não sofrermos", se "desapegar" das relações; "Pois tudo passa, até as dores". É a posição da indiferença. A "sensibilidade" da indiferença.
Você deve sempre dar a prova, convencer de que é digno de alguma atenção. Caso contrário, você é mais um babaca. "Vou abrir algumas vagas para quem quiser ser meu amigo, um reality show seria perfeito".

6
Após algum tempo, após tantos golpes, experiências ruins desilusões, é compreensível que muitos se fechem, cerceiem seus sentimentos e procurem apenas o contato mínimo, a dor mínima. Mas, isto não é de modo algum aceitável. Essa pessoas se tornam aquilo que elas mais detestam, aquilo que elas procuram evitar. São a realização da ideia do Outro que só machuca, indiferente para com os sentimentos dos outros. Incapazes de amar.

Sintoma da arte em 2013

Aqueles que se expressam com "arte"
não conseguem dizer nada
para além daquilo que sentem.

A poesia tornou-se relato:
Sinto-me mal.
É tudo.

Só existe o "eu",
o mundo está ausente.
Fragmentos e pedaços
é tudo o que se consegue formular.

Arte nada tem que ver com comunicação.
Mas eles mal sabem o que querem dizer.

Perdidos em si mesmos,
apenas vagam.

terça-feira, dezembro 17, 2013

cedo de manhã –
o dia mal começou;
talvez ainda não tenha
terminado.
eu sou aquele que morreu dez mil vezes

I am the one who died a thousand deaths


sexta-feira, dezembro 13, 2013

Mensagem não enviada para P.

Não é que você me faça mal, mas o tipo de comunicação que há entre nós me desgasta um pouco.
Um contato filtrado, que não pode passar de certo ponto... sem a inocência de um "querer conhecer".
Eu sempre tento não dizer demais, não perguntar demais. Medir as palavras.

Como quando você veio puxar conversa, e disse que estava chateada e tal, e eu pensei em telefonar – não por nada, era só pelo gesto – e você diz: "acho melhor não". você entende? Não estou reclamando, entendo suas razões e acho certo. Mas eu fico sem saber direito o que fazer, sem entender o que você espera de mim, das minhas mensagens.

Sabe, o meu blog é muito pessoal, você sabe bem, não faço propaganda, só o envio a uma quantidade limitadíssima de pessoas, e ainda sim eu penso muito antes de fazer isso. É um gesto muito singular. Sempre para criar proximidade – mais do que isso, é uma forma de criar ligação pela partilha de um sentimento de mundo.

Não é algo que eu queria que simplesmente seja lido e ouvir "manero, cara". Não. Você não comenta comigo o que está lá. Há coisas muito pesada que estão lá que ninguém sabe, mas estão claramente descritas. São os segredos, você precisa de algumas chaves para entender, mas eu não as dou. E está tudo tão exposto que se torna irreconhecível: escrevo para apagar meu nome.

Quando você me diz "leio suas coisas. me sinto como você, me sinto uma pária social". Eu não entendo a distância. Mas é porque eu quero cúmplices. É uma coisa minha. Estou em um momento onde ficar sozinho não é um problema; onde eu não quero ser amigo de todo mundo. Mas o que eu quero são relações que são como portos seguros; daquelas que você sabe que sempre estarão lá.

Não que eu ache que precisa ser sempre assim – eu não sou depressivo do soulseek, nem menininha do blogger. Mas agora é hora de cuidar dessas amizades, de as cultivar.

Quando eu digo que o amor é uma guerra, é também porque ele tem algo de urgência, de desespero: as pessoas vão ferrar com todo mundo que ficar pelo caminho, sem olhar para trás, nunca, até que finalmente encontrem alguém para chamar de "meu amor". É uma guerra de desejos de todos contra todos – mas os "objetos do desejo" são também outras pessoas.

Mas, o que eu queria dizer não é isso.

O que eu quero dizer é que está todo mundo buscando conforto em relações, mas que no meio do caminho, muita gente sai ferida pela indiferença, pelo esquecimento. É o assassinato pelo gesto, simbólico.

E eu estou para me formar. E já não é de agora: todo mundo vai embora. Até assustas. Acaba a faculdade é você vê que não formou aquele grupo intelectual, de amigos e etc que queria – bom, não como gostaria idealmente que fosse. E Agora é um momento decisivo para que eu fortifique um pouco o grupo que me restou.

Eu sempre fui minoria lá na faculdade: intelectualmente, na prática e no gosto. Lia o que não está na moda na área, fiz meu filme de maneira diversa dizendo coisas diversas das preocupações mais recorrentes, e – ainda por cima – tinha o pior repertório de todos: filme trash, podreira, filmes vagabundo... quando veio o cinema político, então, ficou pior ainda; não conseguia gostar de mais nada porque só via defeito.

Alguém poderia até achar que estou me gabando ou mesmo fazer algum elogio, mas a questão é que quando você não tem com quem dividir essas leituras e filmes, a discussão empobrece. Você tende a se tornar só um cara bizarro meio fora de tudo. Aí não dá.


Bom, agora que eu contei a história da minha vida, eu corto essa longa história em uma curta:


Você se reporta a alguma das coisas mais singulares em mim, mas mesmo assim, não se aproxima. Somos só duas caixas de texto no facebook. Não que você precise, mas é esse o meu incômodo – dado o meu atual sentimento de mundo.

Eu não curto ficar perto de quem não me quer por perto ou para quem tanto faz se sou eu ou qualquer outra pessoa. E eu fico em dúvida sobre quanto de esforço devo gastar com respostas para você. Entende? Eu não sei se você quer que eu gaste com você.

E o que eu estou buscando, de verdade, são pessoas com quem gastar toda esta força.
Não consigo simplesmente responder... Se acho que será em vão, fico em silêncio, distante.

Bom, é isso no que eu consigo pensar por enquanto. Espero que nada disso tenho soado inoportuno ou a deixado chateada. Não é para isso que eu escrevo.

Não sei explicar para mim mesmo, mas ainda gosto de você.



A.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Cinzas

Algumas vezes
até um poema
é pedir demais.