domingo, julho 14, 2013

notas notas notas um (1)

Minha cabeça está assombrada por pensamentos.

que maldição é estar sempre lúcido, sempre pensando.

sou uma maquina de pensar.


o esquecimento é algumas vezes necessário.
Cioran sabia bem o que queria dizer.

dormir é uma condição básica
seria impossível a vida sem o sono.

esquecer, ouvir o silêncio.

há um certo momento em que o contato excessivo com o real se torna traumático
ter de lidar o tempo todo com o peso do mundo
com a ideia de que somos responsáveis pelo que fazemos
saber que há muito a se fazer...

não podemos suportar a ideia de que somos, de certa forma, livres
responsáveis por fazermos algo com aquilo que fizeram de nós.

carta à J. (alguém que nunca me foi próximo); sábado, ‎9‎ de ‎março‎ de ‎2013


Não sei se posso concordar completamente com essa ideia dos amigos da faculdade. Já ouvi algo semelhante, mas era com "escola" no lugar.
De certo, é verdade, é um momento de transição. Muito do que você faz no período de faculdade, não será levado a diante. Como disse: experimentar. Porém, o mais importante permanece.

Sou leitor de alguns poetas e textos que escrevem sobre a melancolia decorrente da percepção do tempo como algo fugidio. Eles nos falam da finitude e do instante, da condição de vivermos sempre em momentos que irão irreversivelmente acabar – e não há nada a se fazer a respeito disso, a não ser aproveitar o pouco tempo que temos.
Não sou leitor da bíblia e sei que nossa geração, mais precisamente nossos pares, jovens cursando faculdades de arte e coisa e tal, também não o são. Temos alguma preguiça e preconceito contra isso, acredito eu. Mas há um texto com passagens formidáveis na bíblia, o Eclesiastes. Este é um texto desse tipo sobre o tempo, Leia:


Prólogo

 Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
 Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do Sol?
 Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O Sol se levanta, o Sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos.  Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr. Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir.
 O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do Sol. Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: Veja: isto é novo, ela já existia nos tempos passados. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles.
 Eu, o Eclesiastes, fui rei de Israel em Jerusalém. Apliquei meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do Sol, e eis: tudo vaidade e vento que passa.
 O que está curvado não se pode endireitar, e o que falta não se pode calcular.
 Eu disse comigo mesmo: "Eis que amontoei e acumulei mais sabedoria que todos os que me precederam em Jerusalém. Porque meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso é também vento que passa. Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e que aumenta a ciência, aumenta a dor".




Acho tão bonito esse trecho.
Bom, mas a filosofia do instante fugidio é também a filosofia do devir, onde nada nunca é; tudo é sempre um constante processo inacabado. Vamos nos fazendo pelo caminho, constantemente; e, se em algum momento pudermos dizer o que somos, já não seremos mais, pois este "eu' definível já terá ficado para trás.

Assim, fico em dúvida quanto aos amigos da faculdade. Ainda, há de se levar em consideração nossa condição moderna atual. Nossas vidas estão cada vez mais chatas e cada vez mais roteirizadas; definidas de antemão como serão – ao menos estruturalmente. Assim, talvez de fato isso seja uma triste verdade, e muitos de nós terão, de amigos, apenas os que ficaram da época da faculdade ou da escola. Precisaria pensar mais sobre isso. Mas talvez seja verdade, depois da faculdade, dificilmente teremos esse tipo de vivência e ambiente que permitam uma relação profunda de amizade entre pessoas...

é interessante isso de melhor amigo. É legal. Sim, também a mim, esses que se foram, não quero mais saber deles. É algo que ficou para trás. Eu já não sou mais o mesmo que foi amigo deles e eles já não são os amigos que eu tive. Não tem essa de em busca do tempo perdido, isso só trás desilusão e melancolia.
Seu ponto também é o meu. Não se trata de encontrar pessoas similares a nós, mas sim aqueles com uma sensibilidade próxima.

Carta a D. (7 de Maio de 2013)



você cortou sua fala bem no meio. Não acho chato ler isso, de forma alguma. É algo que eu sempre vou ouvir. Por experiência própria, aprendi a ouvir os outros – penso eu. Sei bem o que é essa sensação de falar sozinho. Tem aquela música, "um homem chamado alfredo", do cara que se mata de solidão e ninguém nem sabia o nome dele:

"Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê"

Sinto que, muitas vezes, ganha-se muito em não se buscar a companhia de ninguém, em ficar sozinho lendo um livro.

Quando você mais precisa de alguém, quando se está quase desesperado por uma conversa que seja, e você procurar isso, é aí que começa uma empreitada autodestrutiva.
Sim, eu escrevo há algum tempo já.
Bukowski escreveu uma vez: estas linhas que escrevo me afastam da loucura total. Cioran também disse algo próximo: uma obra é um suicídio adiado.
Talvez, por algum tempo, eu tenha escrito apenas para não deixar o ego morrer. E assim, escrevia para sentir que tinha alguma importância. E fiz isso para não ter que falar de mim para os outros.
Escrevo agora para organizar pensamentos, para entender o que eu sinto. Bom, no fundo ainda é para se manter.

E quanto às cartas, eu não sei como ou quando começou, talvez tenha sido apenas uma questão de percepção. Eu converso sozinho, e muitas vezes imagino que me dirijo à alguém, ou que estou em uma situação tal falando sobre algo específico para uma pessoa tal. É um dispositivo para o pensamento, algo que ajuda. Acho que um dia escrevi uma longa mensagem a alguém e mais adiante descobri que isso se assemelha bastante com a forma-carta.
Gosto de escrever um pensamento à alguém. Eu salvo algumas dessas mensagens que eu escrevo aos outros. Esta daqui eu vou salvar. Mas, sabe, nem sempre é bom mandar uma mensagem-carta aos outros. Tem gente que não tem/não quer dizer nada. E é insuportável mandar uma mensagem dessas, longa, trabalhada, e receber uma resposta indiferente. É muito desgastante – que tem a ver com tudo o que nós estamos falando.

"(...)Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, - nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! - as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, - Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua."

(Cidade, Arthur Rimbaud)

Carta à L., sem data. primeiro semestre de 2013


De uma certa forma, entendo bem o que você diz.
E, apesar de já ter falado muito sobre isso em cartas, é sempre difícil se expressar sobre. Posso lhe dizer que sinto algo assim também: um cansaço. Algumas noites a gente senta e está cansado de ter que continuar a "viajem", de ter que continuar essa espécie de busca por algo. Parece que a gente anda e anda sem nunca alcançar nada, sem nunca ter descanso. E tudo é tão fugidio: fogo, brasas depois cinzas.
E a gente, nós, os que ficam, ou melhor, nós que seguimos em frente, nos distanciando do que quer que tenha passado, sofremos, como se tudo resultasse sempre em dor. E então, começamos a tentar mudarmos nossos desejos, ou passamos a achar que não mais seremos pegos pelas armadilhas, pelas ilusões do mundo, que já entendemos a vida.... aí está outro engano.
Como diz a canção, "O mundo é um moinho".

De certa forma eu estou bem. Acho que estou cansado também.

Carta à L.



12/5/13

Foi bonito o que você disse. Confesso que às vezes procuro em vão pelas palavras, sem conseguir dizer muita coisa que faça sentido; sem nunca achar o emprego exato para um sentimento.
Gosto quando elas fazem sentido para mais alguém além de mim, pois as palavras que recebemos em troca... Bom, elas são bem mais do que um mero eco e menos do que um Norte, mas são uma forma de nos encontrarmos no mundo. Depois delas, nos sentimos um pouco menos solitário e um pouco menos desesperados.

Por vezes, não faltam sentimentos, mas parece que não há força nem vontade, que não há significado naquilo que dizemos ou escrevemos... e permanecemos em silêncio.

E você tem toda a razão no que diz: Há sempre alguma dor, mas é ela que rompe essa parede de indiferença e falta de sentido que nos cerca a todo momento, e nos torna mais sensíveis e criativos.
Bonito isso.

E não se preocupe, não pela demora. Eu gosto de lhe escrever e de ler suas respostas. Fico pensando aqui comigo, acho que seria legal ver um filme contigo.

nos falamos uma vez por telefone... ainda não sei quem você é



sonho com pessoas que não existem

ando sonhando com pessoas que não existem

uma vazio que se transforma, que assume forma


em meio á multidão nos encontramos
conhecemos profundamente um ao outro
ela sabe meu nome, mas não diz
eu não sei seu nome – ela não tem
alcanço sua mão, tão logo
somos inseparáveis

então, desperto
ela não existe

tão logo percebo que
não se trata de uma memória
mas de um sonho


Waiting (esperando)






enquanto andava pela cidade
perguntei:
qual é o meu nome?
como eu me chamo?
– mas ninguém soube responder

"Algumas vezes o facebook torna a solidão insuportável"

não consigo dizer coisa alguma
as palavras não se formam
ensaio, ensaio
e não digo nada

"Mortos ou coisa melhor"

e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio
mais alto que todos os sons

todos os sons não o podem preencher

então, eu espero
naquele lugar
esperando...

"waiting
again and again"

e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio,
um grande silêncio que vem de dentro.
como se eu mesmo houvesse me abandonado.

silêncio. silêncio que vem de dentro.
mais alto que todos os sons...
todos os sons não o podem preenchê-lo.

carta à D. 21/5/13 7:16


eu gosto de escrever de volta, de responder suas mensagens.
acho que é algo que me mantem um pouco menos loucos, menos indiferentes.
pode ser doloroso, difícil, mas se não fosse, talvez não seria suficiente; talvez nem valesse a "pena".
acabo por sempre gastar um bom tempo lhe escrevendo de volta – é o jeito para se responder verdadeiramente. preciso de algum tempo para pensar no que você disse e depois pensar no que vou dizer. então escrevo e depois leio, corrijo, adiciono algo, mudo uma frase. nunca fica perfeito, mas tenho que sentir que aquilo vale a pena ser dito. e, ultimamente, minha cabeça tem estado um tanto quanto bagunçada; com pensamentos fora do lugar... com lugares fora do pensamento. não sei. ao tentar lhe escrever, subitamente, aquilo tudo parecia inútil, sem sentido... vazio. A dificuldade em se formular uma frase... e todo aquele esforço pareceu em vão tão logo a mensagem parecia louca demais ou vazia demais.
estes são tempos estranhos; sem sentido, sem propósito. me sinto perdido em um vaguear inútil – onde é impossível se perder ou mesmo se encontrar.
estou aqui agora, ouvindo música e lhe escrevendo. estou um pouco doente, fisicamente falando.
hoje o dia está frio e chuvoso,  minha sorte é que poderei ficar em casa sozinho.

entendo. perdi uns eventos recentemente por causa das aulas e tal. depois eu procuro por gravações. e o willer depois conta no blog dele como foi. Mas, não é a mesma coisa. Bom, legal que esteja se dando bem no trabalho. é um bom sinal. e, pelo que conta, parece um ambiente legal. e, sim, gostaria de ouvir sobre suas ideias de performance, se quiser conversar qualquer hora, estarei aqui.

um beijo,
e até logo.