Não sei se posso concordar completamente com essa ideia dos amigos da faculdade. Já ouvi algo semelhante, mas era com "escola" no lugar.
De certo, é verdade, é um momento de transição. Muito do que você faz no período de faculdade, não será levado a diante. Como disse: experimentar. Porém, o mais importante permanece.
Sou leitor de alguns poetas e textos que escrevem sobre a melancolia decorrente da percepção do tempo como algo fugidio. Eles nos falam da finitude e do instante, da condição de vivermos sempre em momentos que irão irreversivelmente acabar – e não há nada a se fazer a respeito disso, a não ser aproveitar o pouco tempo que temos.
Não sou leitor da bíblia e sei que nossa geração, mais precisamente nossos pares, jovens cursando faculdades de arte e coisa e tal, também não o são. Temos alguma preguiça e preconceito contra isso, acredito eu. Mas há um texto com passagens formidáveis na bíblia, o Eclesiastes. Este é um texto desse tipo sobre o tempo, Leia:
Prólogo
Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.
Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do Sol?
Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste. O Sol se levanta, o Sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo. O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos. Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr. Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir.
O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do Sol. Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: Veja: isto é novo, ela já existia nos tempos passados. Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles.
Eu, o Eclesiastes, fui rei de Israel em Jerusalém. Apliquei meu espírito a um estudo atencioso e à sábia observação de tudo que se passa debaixo dos céus: Deus impôs aos homens esta ocupação ingrata. Vi tudo o que se faz debaixo do Sol, e eis: tudo vaidade e vento que passa.
O que está curvado não se pode endireitar, e o que falta não se pode calcular.
Eu disse comigo mesmo: "Eis que amontoei e acumulei mais sabedoria que todos os que me precederam em Jerusalém. Porque meu espírito estudou muito a sabedoria e a ciência, e apliquei o meu espírito ao discernimento da sabedoria, da loucura e da tolice. Mas cheguei à conclusão de que isso é também vento que passa. Porque no acúmulo de sabedoria, acumula-se tristeza, e que aumenta a ciência, aumenta a dor".
Acho tão bonito esse trecho.
Bom, mas a filosofia do instante fugidio é também a filosofia do devir, onde nada nunca é; tudo é sempre um constante processo inacabado. Vamos nos fazendo pelo caminho, constantemente; e, se em algum momento pudermos dizer o que somos, já não seremos mais, pois este "eu' definível já terá ficado para trás.
Assim, fico em dúvida quanto aos amigos da faculdade. Ainda, há de se levar em consideração nossa condição moderna atual. Nossas vidas estão cada vez mais chatas e cada vez mais roteirizadas; definidas de antemão como serão – ao menos estruturalmente. Assim, talvez de fato isso seja uma triste verdade, e muitos de nós terão, de amigos, apenas os que ficaram da época da faculdade ou da escola. Precisaria pensar mais sobre isso. Mas talvez seja verdade, depois da faculdade, dificilmente teremos esse tipo de vivência e ambiente que permitam uma relação profunda de amizade entre pessoas...
é interessante isso de melhor amigo. É legal. Sim, também a mim, esses que se foram, não quero mais saber deles. É algo que ficou para trás. Eu já não sou mais o mesmo que foi amigo deles e eles já não são os amigos que eu tive. Não tem essa de em busca do tempo perdido, isso só trás desilusão e melancolia.
Seu ponto também é o meu. Não se trata de encontrar pessoas similares a nós, mas sim aqueles com uma sensibilidade próxima.