escritos em uma certa ocasião, os trechos se apresentavam:
Isso não é um apelo ou um manifesto, mas dirige-se apenas a quem quiser ler. em princípio não penso em me desgastar tentando argumentar ou convencer. nem mesmo estou com disposição para isso.
e sem modificações eles permaneceram:
confesso que às vezes entro na comunidade buscando algo, que entro pra ver se tem "algo pra fazer". Leio os tópicos e me sinto incapaz de responder e de participar; de ajudar a quem escreve.
todos com problemas parecidos em maior ou menos grau. Problemas que alguém já teve ou vai ter. Talvez situações seja uma palavra melhor.
então, na sua cabeça, você então se dá conta de uma multidão abandonada. pessoas das quais não se tem nem ideia, pessoas que ninguém vê ou presta atenção. e quase todo mundo é assim em algum momento.
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e alguém lhe diz "ora, você precisa sair mais". e você não tem como explicar. não quer. não pode. e então deseja que tivesse ficado calado.
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Não precisa nem pensar muito. ninguém vai querer te tirar dessa; se aproximar porque simpatiza com você: "ninguém gosta de pessoas depressivas." então você se dá conta que se quer arrumar seus amigos, namorada, ou o que for, você vai ter que sair dessa sozinho.
Mas talvez outra questão possa aparecer.
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“A sociedade, tal como vocês a constituem, eu a odeio. Eu sempre a odiei e vomitei. (...) Desde que encontrei na literatura um exutório, meu ódio tomou uma outra forma, menos pessoal: ele não se traduz mais num impulso interior mais ou menos acidental, ele se deduz de uma filosofia aclarada pela experiência. De um rancor nasce uma idéia. E essa idéia torna-se, à medida que avanço dentro de minha obra, mais serena e mais indestrutível. Eu o sei, eu o testemunho: a ordem social não se mantém senão ao preço de uma infernal maldição que aflige os seres, dentre os quais os mais vis, os mais nulos estão próximos de mim – quer isso agrade a vocês ou não – que qualquer burguês virtuoso e assegurado. Para sempre eu me fiz intérprete dos dejetos humanos, dos resíduos que apodrecem nas prisões, debaixo das pontes, no fundo da fétida podridão das cidades”.
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Algumas vezes penso que certas pessoas não se desenvolveram completamente, a sociedade, seus valores, suas imagens e dispositivos as podaram, as estragaram; fizeram-nas crescer tortas. Talvez elas sejam impróprias para esse mundo. nunca conseguiriam ser em completitude consigo mesmas. não que elas tenham um estágio final ou que sejam superiores, mas que seus caminhos estão bloqueados. Resta-lhes renunciar ou se conformar.
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Quando Camus diz que a questão mais importante está em escolher ou não viver a própria vida e tudo o mais é respondido em consequência disso, me parece que a máxima existencialista de que "o importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós", é cruelmente reafirmada por ele.
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talvez nosso tempo já tenho acabado: é tarde demais para querer se tornar um adulto; para querer se tornar "alguém". nossa incompletude e imperfeição maior já estão dadas. não nos resta nada por fazer, apenas a melancolia decorrente. teremos que viver como crianças perdidas o que nos resta de tempo. In girum imus nocte et consumimur igni. Vagamos pela noite e somos consumidos pelo fogo.
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Nada falta ao triunfo da civilização. Nem o terror político nem a miséria afetiva. Nem a esterilidade universal. O deserto não pode crescer mais: está por todo o lado. Mas pode ainda aprofundar-se. Perante a evidência da catástrofe, há os que se indignam e os que agem, os que denunciam e os que se organizam.
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Outros virão. Não somos os primeiros; se tudo continuar tal e qual, com toda certeza não seremos os últimos. Até quando?