quinta-feira, dezembro 27, 2012

neblina

o mal que sinto em mim,
de tão intenso,
parece cobrir tudo.
ele está onde estou.

"não podes sentir
esse ar tão pesado
que nos envolve?"

"essa dor de viver
que está em todo lugar
que olho?"

penso ser o próprio
mal-estar;
personificado.
a náusea que
caminha.

como posso ficar
perto de alguém
dessa forma?

impossível desfrutar
da companhia
de quem eu gostaria
se perto dela
lhe causo repulsa.

quando a noite não quiser passar,
converse com miles davis.
não que ele tenha alguma resposta...
mas talvez tudo faça um pouco mais de sentido.

como no livro: you get so alone at times that it just make sense

não sei. talvez não seja isso.

alguns passam a vida toda buscando compreensão.
talvez se trate disso.
quando leio bukowski, sinto que existe mais alguém por aí.
a solidão diminui um pouco e eu percebo que mundo maluco e fodido é esse aí fora. acho que é por isso que "faz sentido". E então o absurdo da vida se torna mais suportável por um instante.

acho que vou fazer isso agora.
todas as teorias sociais acabaram de falhar
o que direi a ela?

me perguntas como passo meu tempo...
me sento em uma cadeira e escuto as velhas músicas de sempre
ando por aí sem esperar por nada .

e outra vez,
parece que tudo acabou.

daqui pra onde agora?

vinho e cerveja
são só
vinho e cerveja .

esperar ?

o tédio se arrasta para cima de nós.
e estes, iguais a mim, são seus agentes.
por/em toda parte
eles fazem seu serviço sujo.

Posso dizer que esta juventude não irá durar para sempre...

meus pensamentos ainda permanecem com as garotas dos anos passados.
um rio que nunca para de correr

rascunhos do poema mais perfeito do mundo

Você pode pensar.

Estar sozinho é antes de tudo se sentir sozinho... e mais
é realmente não poder contar minimamente com outros
para tarefas simples.

Angústia da situação se faz pesar através das escolhas sem volta
e sem amparo.

Em algum tempo, você não saberá muito bem como se comportar
em uma roda de pessoas.
Você não saberá manter uma conversa,
mesmo que precise,
mesmo que queira.

A solidão e a introspecção formarão uma torre
de onde tudo será visto de maneira privilegiada
e de onde tudo se julga.

Cuidado com a arrogância!
Mas não a descarte!

Ah, essa reclusão que me impuseram
e que aceitei de bom grado!
É preciso tempo,
é preciso se desprender do mundo
E como dói tal processo!
Mas o aceitei.
Ah, esta soberba solidão!

Conheço tão bem o mundo
como a mim mesmo!

Sou a medida de todas as coisa!

E os meus sonhos são toda a potência e toda a morte.

No meu reino, você não me olha nos olhos, mas sim, eu, eu olho para dentro de ti
e sei tudo o que preciso saber.

Não o julgo antecipadamente, mas conheço tão bem a miséria humana
que dificilmente algo me escapará.

(...)
Os livros nunca te evitam.

Pode parecer óbvio,
mas é preciso dizer.

Os livros
nunca
te evitam.


As pessoas podem lhe evitar;
até a escrita pode te deixar
por um momento

seu cão mijou pela casa toda
e
não há cerveja.

neste momento
seus amigos todos estão a cuidar das gordas aposentadorias
prometidas

seu sono se foi
ou
não quer vir.

o que não deixa de ser uma grande besteira,
mas ainda é preciso dizer,
os livros não te evitam;


pequena notação:

é preciso dizer que não é pela cultura, nem pela Razão; tão pouco pelo conhecimento ou respeito aos grandes. Você abre os seus livros e eu os meus. Faça sua lista. Os livros são as companhias que permanecem por mais tempo.

Há pessoas que irão te trocar por desenhos animados ou debates sobre idiotices no bate-papo, largue-os por livros. Não é um gesto de arrogância ou coiso do tipo, trata-se apenas de prudência. A longa espera pelo outro que nunca vem e o sentimento do desdém só lhe causarão ansiedade e depressão.

É preciso notar a tristeza e o desânimo generalizado entre a juventude, sobretudo entre a "elite intelectual" da classe média. Mesmo estando tristes e insatisfeitos com suas vidas e com os rumos para o qual elas apontam, estes jovens agem como se acreditassem que a espera pudesse resolver e endireitar suas miseráveis vidas. Esperam também que alguém "especial" irá aparecer para mudar tudo; e enquanto esperam, desdenham de tudo o mais que os cerca.
 E essa é a miséria da juventude, que não crê em si e nem nos seus, mas que deposita as potencialidades que carrega em um grande outro que nunca virá. E assim permanece toda uma geração melancólica a esperar por seu próprio duplo sem o saber; desprezando todos os outros por não o serem cópias perfeitas dela mesma. Buscando apenas encontrar-se a si mesma nos outros.

A juventude pequeno burguesa sofre inconscientemente de narcisismo.

É preciso partir para novas visões; já cansado da visão que se encontra e reencontra por toda parte.


Duas pessoas são capazes de, ao se cruzarem na rua, ter pensamentos igualmente negativos uma em relação à outra; isto é, de como a vida do outro que o acaso nos colocou na frente é estúpida e vazia, e de como ele não nos entenderia a dor e o tédio, pois ele é como os outro. Essa é a massa dos únicos.

Quando nos encontramos com gente nova, temos em média 5 minutos para impressionar a pessoa e a convencer de que somos alguém que ela estava procurando – o que guarda relativas semelhanças com a entrevista de emprego.

(...)
os olhos tristes dos vagabundos condenados


A cela escura e úmida, suja e mijada
paredes riscadas com as mensagens dos condenados

o tempo não passa enquanto você espera
e esperar é tudo que você consegue fazer
os pensamentos que não se fixam
pensando a si mesmos pensando

os gritos que vem de fora
te lembram que você se ferrou

e

os olhos tristes dos condenados,
de desolação
de incerteza;
na mão daqueles...

o concreto é frio

sente-se,
agora você é a escória



L'enfant perdu

a tristeza que arrebenta com tudo

e há má poesia em toda parte
seguida de montes de idiotas e canalhas

e a tristeza que simplesmente arrebenta com tudo

mas que alma triste a minha
que grande azarão

estou aqui

e você nem sabe onde é

e a tristeza que sempre volta
de um jeito ou de outro

e arrebenta com tudo

não consigo ter certezas agora

será que está tudo bem ou será que estou afundando com tudo?
Isso é a ruína ou o caminho a seguir?
nada toma forma, ou será que não percebo?
caminhos que não levam a nada...
quebrar 
quebrar este círculo.

e que solidão é essa?
que solidão é essa que não pedi?
não sei mais o que há além dela.
nem se estou bem ou mal.
estando sozinho, apenas estou.

neste momento, mais do que a solidão
eu quero sumir, me isolar de tudo isso.
que inferno!

e essa maldita visão!
não sou nada
não sou nada

preciso dormir
dormir é quase tudo o que me resta.
sono, o irmão da morte.
porque nem pra morrer estou servindo.

jogo da desconstrução, jogo do arrependido: exercício

escrever pra mim mesmo é fácil. posso fazer isso por um bom tempo. mas não terei muito o que dizer.

eu vi os olhos tristes do vagabundo condenado. eu vi a mim mesmo em uma cela. o que vem depois?

e há a tristeza que sempre acha uma forma de voltar. não é como antes. não mesmo. agora é pior.

são páginas e mais páginas de coisa nenhuma. voltar e ler. como aguentar ? como não ir dormir ?

uma linha um pensamento. justo ou não. mas sempre sincero... sincero e confuso como tudo.

como pude deixar aquilo acontecer? que tipo de idiota sou eu? sou um idiota condenado...

e "você" é só uma palavra. não. é sempre alguém. mas é alguém que nunca está lá onde eu gostaria.

eles riram dos meus livros e de mim. é trabalho deles. fizeram pouco de mim. o tempo dirá quem é o idiota.

depois dessa, não sei o que fazer. parece que o corpo está se desintegrando e a alma minguando.

silêncio. silêncio que vem de dentro. mais alto que todos os sons... todos os sons não o podem preenchê-lo

o que falta o pedaço arrancado o vazio não não agora não é mais como foi um dia não será nunca mais

sono sobre a terra. sono de baixo dela. começo aos poucos a sumir também. a sumir...

primeiros as mãos depois braços pernas e tronco restará cabeça por fim o vazio enfim negro quarto sem luz

logo será manhã logo será manhã mas me permita dormirei dormirei por favor me permita dormir ei

domingo, dezembro 23, 2012


‎"Não quero que ninguém
ignore meus gritos de dor, e
quero que eles sejam ouvidos"


Que diria Artaud, hoje, quando toda dor não expressa de maneira espetacular é ignorada – principalmente aqui, no facebook?



Que diria Artaud, hoje, quando toda dor não expressa de maneira espetacular é ignorada – principalmente aqui, no facebook?

Estar vivo é estar aberto à dor.
E nenhuma dor é pouca.

"A dor é absurda; porque ela existe".

Agora, é o facebook quem pergunta, com toda a indiferença do mundo: "Como você está, Arthwr?



Ainda, é preciso ter cautela, encerrados em suas próprias dores, a dor de todos os outros é constantemente esquecida.

Mas, pode a dor, por si só, se tornar frente política ?
Não creio que seja o caso de uma Política da Dor – nem muito menos da política dos doídos.


A política dos doídos é reacionária, porque quer simplesmente proteger os seus, suprimindo todos os outros. "Política do afeto" é a miséria do nosso tempo. Creio que a a perda das noções entre público e privado constitui, em boa parta, as raízes da crise atual da política.


Talvez eu tenha começado todo o raciocínio de maneira errada:

Não será o facebook o grande Espetáculo da Dor? Da Dor e do Ressentimento.

Temos a falsa sensação de que aqui os outros nos ouvem.
Mas, todos transitamos de dor em dor, uma a cada minuto, como uma simples maneira de não nos entediarmos.


Em uma variação apropriada, Picabia poderia dizer o seguinte:

"Vaiem, gritem, esmurrem a minha cara, e depois, e depois? Direi ainda que todos vocês são idiotas. E dentro de cinco ou dez minutos, todos vocês estarão curtindo os meus novos "posts" no facebook."

domingo, dezembro 16, 2012

my beerdrunk soul is sadder than all the dead christmas trees of the world

Nesta noite, não há maior tristeza do que a minha.

lembro do passado e suspiro
olho para os lados e não vejo ninguém

meus olhos estão cansados
minha vida se esvai em gestos
beirando o desespero
mas sem nunca se entregar totalmente.

não quero que minha dor seja relativizada
sei que minha dor não é pouca

penso com raiva na indiferença
que tantas e tantas vezes já me foi oferecida –
por aqueles que mais amei.

o desgosto me vem à boca.

não quero saber das palavras de quem
"pouco pode fazer"

eu quero que minha dor seja ouvida,
eu quero que ela seja levada em consideração
em cada gesto ou palavra dirigida a mim.

não sou idiota,
sei quando alguém
desvia do "assunto"
fingindo que não vê;
por conveniência
própria.

e é neste momento
que eu sei
que não vale a pena
dividir nem dor
nem alegria
com este tipo
mesquinho de pessoa.

mas é dessa forma que
tudo acontece
durante quase todo o tempo.

sábado, dezembro 08, 2012

a Dor fala

dor

isto é sobre a dor.


mal consigo pensar.

sinto sono e sinto minha cabeça pesada

tento ouvir o que eles dizem na entrevista

e tento formular algo sobre Dor.


me sinto esvaziado

meu corpo é como um corpo velho
com juntas e articulações que não querem se mexer

minha expressão é a da fome
da loucura e do desespero
mas também da desolação e do vazio

meus olhos não dizem coisa alguma
fechando e abrindo vagarosamente
para não se desgastarem

meus dedos pesados e rígidos
trabalham como peças de uma máquina
que já não vale muito
meus dedos são as engrenagens do tempo
arrastando-se através da ferrugem
rachados e mal conservados
mas assim mesmo implacáveis
e intermináveis
uma estátua com força de vontade

minhas mãos coçam

o gosto amargo
a boca seca
a sede e a fome

e essa televisão maldita
que nunca se cala?

o suor do rosto

o tempo quente
baixa umidade


a raiva
uma explosão de raiva
a cólera última
o estrondo derradeiro

a mudança da expressão para algo
além do nada

que condição miserável!

abandonado por todos
encerrado em um corpo

eu os odeio!
eu os odeio...

indiferentes ao amor ou ao ódio
vocês não são mais humanos
piores que esta criatura

eu, a criatura
o inseto
o fantasma

a estátua de pedro fria
com fogo nos olhos
com incêndios na alma

com a raiva que consome
os mais ínfimos pensamentos
transbordando por entre os punhos fechados
como uma taça

o som da mesa
a descarga de forças
o sinal de vida

estou vivo, estou aqui
sinto tudo, de uma vez
sinto meu corpo se mexer
meus olhos se apertam

os dentes apertam a boca
os músculos se contraem
é o fim do silêncio

é tudo que me resta
a raiva
o ódio

a recusa violenta desta situação

o gosto azedo que sobe à boca
os dentes
os olhos
são todos um só
um corpo
um alguma coisa


A DOR

A DOR DE ESTAR AQUI

SENTIR TODA ESSA RAIVA ARREBENTANDO O PRÓPRIO CORPO

as asas que nunca vem
a gaiola que se funde ao corpo
a ferrugem e a feiura
a impossibilidade

O que é tudo isso?

o que é essa condição miserável?

mal consigo dizê-lo sem explodir mentalmente em raiva e angústia
linhas e mais linhas de frases ininteligíveis


e a DOR
A VONTADE DA DOR

o buraco gigantesco na alma
a lágrima negada

que dor horrível, meu deus

o peso de todo o mal do mundo
do mal-estar infinito
contido em algumas horas da madrugada

até isto é inútil

primeiro raiva e depois aceitação

depois a melancolia silenciosa

depois o Sim para a Morte

os segundos gritantes que passam deixando marcas

por favor, por favor
me liberte deste mundo solitário
desta existência encerrada em si mesma
desta prisão de ferrugem da alma



o que está feito está feito
o dano causado permanecerá até o fim dos meus dias.
mas ele não para de se agravar.

a vida se encerra em um sobreviver a si mesmo
em administrar a dor, a loucura, a desolação,
a solidão e a raiva.
todas as forças são gastas dessa forma
não restando mais nada para ser empregado
em algo positivo
em algo construtivo.

lutar com a dor
e a dor nunca tem fim.

e tudo que vocês são capazes de me oferecer é mais dor.

talvez daqui a cinco anos eu não sinta mais nada.
viverei catatônico e indiferente

Da Maneira Como Vocês Me Pedem.

terça-feira, dezembro 04, 2012

esta noite

a poesia é ruim.
ela não virá esta noite.

não tenho o dom.
algumas vezes apenas vem.
mas no restante do tempo,
escrevo pedaços de rascunhos
de cartas pra mim mesmo.



como vocês mesmos
podem ver...

segunda-feira, dezembro 03, 2012

sinking

E, por meio desta, venho lhe dizer que Não Estou Aqui.



Perdoe-me, mas sinto me mal esta noite.


e tudo que consigo ouvir é um grande silêncio, 
um grande silêncio que vem de dentro. 
como se eu mesmo houvesse me abandonado.

...e pouco a pouco a alma deixa
o corpo, para nunca mais voltar...



você continua aí?

espero um dia poder voltar.



http://www.youtube.com/watch?v=OfC4hftKmOQ

domingo, setembro 02, 2012

Os soluços graves dos violinos suaves

Começo uma carta – que se quer extensa – para um certo alguém. Ela então se inicia dizendo assim: "Você não se importa". Que fazer depois de tal constatação, já que a carta toda se mostra inútil.
Angústia.

Coligação Partidária

Agora que tenho as fotos,
já não há mais quem as queira olhar.
nem ela,
nem eu.

(...)

Está frio aqui; o Sol já nasceu e se insinua na estante de livros.
não que seja de grande importância,
mas sou o único que – agora – sabe disso.

Aqui, ninguém sabe onde estou.

Estou aqui.

(..)

... e os grandes pensamentos serão sempre solitários.

... é na solidão que você poderá ouvir as palavras morrendo antes de saírem da sua boca ...

... mas também na multidão...

... é quase igual ...

(...)

a virtualidade do poema
o impede de ser real.

no pior sentido.
[Delete]

(...)


Aqui, neste espaço,
é onde mentimos acreditar em nós mesmos.

Acreditar na mentira
já um terço de verdade.

Acreditamos em mentiras.
Acreditamos em Nadas.

1/3

sábado, abril 28, 2012

Não sabia que Whitman, Verlaine e Li Po se conheciam.. e também à Blake.

Sonhemos, é hora...

As belas noites são feitas para as palavras puras.

A brava brisa brame
E a noite é fria;
Vem a mim, Sono,
E abraça minha agonia.

A lua branca deve impedir o sono.

Eu parto com o ar
Entrego-me ao pó

Se quer ver-me novamente, procura-me sob teus pés.

Dificilmente sabereis quem sou ou o que significo;

Em alguma lugar estarei a tua espera.

Torno a deitar me.

é preciso beber mil frascos
para lavar as velhas mágoas.

sábado, abril 14, 2012

quando ninguém olha, você fraqueja?

"I take a look around,
I know that no one else cares"

Foi preciso muito tempo para
não se deixar levar
pelos próprios pensamentos.

se levantar sozinho
às 5:41.
ninguém por perto
às 5:42
não há ninguém.
se levantar sozinho.

o que você quer que eu lhe diga?
se eu não fizesse, ainda estaria lá.

e depois de tanto tempo
a solidão te ensina alguns truques:
as coisas começam a fazer mais sentido
você não mais espera, e
aprende novas formas de se mover.

pense nisso.
pense que
os outros dormem tranquilos em suas camas
isto só chegará a eles bem depois.
caso queira contar. caso queiram saber.

pensar que ninguém se importa
servirá bem a um coração
crescendo frio.
O tempo
poderá torná-lo torre
--cada vez mais alta.
Mas saiba que a espera
ela, sim, irá te devorar.

esperar
esperar caído
diante do vazio.
--tente gritar,
se quiser.
quem sabe
alguém o escute.

por mim eles nunca vieram.

segunda-feira, abril 09, 2012


chet baker parece tão batido como artaud. 40 anos depois e "cool jazz" é o máximo que sua voz suporta. será que ele realmente se suicidou ou caiu acidentalmente da sacada do hotel de tão debilitado que estava? melhor pensar que se matou."(...) I don't think life is really worth all the ... the pain, the effort, and struggling if you don't have somebody that you love very much""que otário que sou por te querer"e não é tudo um tanto quanto patético ?“O mundo é só desilusão” resumiu Villon. "A vida é um imenso sonho, por que labutar em vão?" perguntou Li Po.Ele deixa seu trompete no banco e sai de cena silenciosamente. Estilo? Com certeza algum.Mas será que também depende da hora?


quarta-feira, abril 04, 2012

mundos vem e vão, enquanto eu permaneço aqui.

bebendo cerveja
escrevendo qualquer coisa

hoje ainda é terça

não encontro o que escrever

quanto tempo mais
terei que sentir passar?

sábado, março 17, 2012

Carta imaginária para quem já andou comigo na chuva

Não sei se gosta da chuva.
imagino que algumas pessoas não gostam por ela "estragar" seus passeios e seus fins de semana. por ela molhar suas roupas e seus cabelos. Imagino também que alguns outros não devam gostar muito pelo medo de que ela invada suas casas.
também o trânsito fica mais lento e as pessoas não querem se demorar no caminho para qualquer lugar. temos pressa até quando não precisa ter. no ônibus as pessoas fecham a janela por você.
não sei se gosta da chuva.
ás vezes gosto de andar na chuva. na chuva mais fina, que leva mais tempo pra molhar a roupa toda, que não penetra fundo por entre os cabelos. e você pode andar devagar e sentir as gotas tocando de leve a pele. E nesses momentos eu me sinto mais vivo do que em qualquer outro. literalmente sinto. e para além do tempo morto esse é um outro tempo. as ruas ficas vazias, as pessoas somem. os barulhos diminuem. e eu estou sozinho. sozinho, mas de um jeito especial. estou diante de um momento em que posso aproveitar sozinho. e devo fazê-lo assim. já que este é como melhor posso fazê-lo.
não sei se gosta da chuva.
sábado domingo ficar em casa e olhar pela janela. nada em especial pra fazer. se chover ou não, não faz tanta diferença. um raio ou outro.tanto faz. na verdade é bom quando chove em um domingo. pois é quando menos importa a solidão. já que talvez sem ela não fosse possível aproveitar esse momento. não? como dividi-lo com alguém? Não sei se é possível nesses termos. nesse tempo que é só meu. nesse tempo ao qual eu me inscrevo e determino a duração. a chuva não conversa, a chuva não olha. mas ela está lá e você pode ficar o tempo que quiser. enquanto durar.
não sei se gosta da chuva.
lembro que a primeira vez que eu te vi, chovia. você tinha seu guarda chuva. não me ofereci para segurá-lo até que me pediu. por que será?

segunda-feira, março 12, 2012

Frank Harris ficaria orgulhoso

Até cães selvagens andam em matilhas, bem diferente da solidão conjunta marcada pelo individualismo pobre e egoísta das maiorias. Por isso digo: Não há união como a união dos párias, pois trata-se de um verdadeiro pacto existencial.

quarta-feira, março 07, 2012

sou o único pedaço de papel rasgado que sobrou de algum livro.

já chorou de solidão?

esquecimento ou reclusão?

olho pela janela,
que,
como um espelho,
me mostra
o que eu já sei.

mas são luzes que pouco dizem.

será que alguém
de lá olha também?

quarta-feira, janeiro 25, 2012

somente anotações para algum futuro

escritos em uma certa ocasião, os trechos se apresentavam:

Isso não é um apelo ou um manifesto, mas dirige-se apenas a quem quiser ler. em princípio não penso em me desgastar tentando argumentar ou convencer. nem mesmo estou com disposição para isso.

e sem modificações eles permaneceram:

confesso que às vezes entro na comunidade buscando algo, que entro pra ver se tem "algo pra fazer". Leio os tópicos e me sinto incapaz de responder e de participar; de ajudar a quem escreve.


todos com problemas parecidos em maior ou menos grau. Problemas que alguém já teve ou vai ter. Talvez situações seja uma palavra melhor.

então, na sua cabeça, você então se dá conta de uma multidão abandonada. pessoas das quais não se tem nem ideia, pessoas que ninguém vê ou presta atenção. e quase todo mundo é assim em algum momento.

(...)

e alguém lhe diz "ora, você precisa sair mais". e você não tem como explicar. não quer. não pode. e então deseja que tivesse ficado calado.

(...)

Não precisa nem pensar muito. ninguém vai querer te tirar dessa; se aproximar porque simpatiza com você: "ninguém gosta de pessoas depressivas." então você se dá conta que se quer arrumar seus amigos, namorada, ou o que for, você vai ter que sair dessa sozinho.

Mas talvez outra questão possa aparecer.

(...)

“A sociedade, tal como vocês a constituem, eu a odeio. Eu sempre a odiei e vomitei. (...) Desde que encontrei na literatura um exutório, meu ódio tomou uma outra forma, menos pessoal: ele não se traduz mais num impulso interior mais ou menos acidental, ele se deduz de uma filosofia aclarada pela experiência. De um rancor nasce uma idéia. E essa idéia torna-se, à medida que avanço dentro de minha obra, mais serena e mais indestrutível. Eu o sei, eu o testemunho: a ordem social não se mantém senão ao preço de uma infernal maldição que aflige os seres, dentre os quais os mais vis, os mais nulos estão próximos de mim – quer isso agrade a vocês ou não – que qualquer burguês virtuoso e assegurado. Para sempre eu me fiz intérprete dos dejetos humanos, dos resíduos que apodrecem nas prisões, debaixo das pontes, no fundo da fétida podridão das cidades”.

(...)

Algumas vezes penso que certas pessoas não se desenvolveram completamente, a sociedade, seus valores, suas imagens e dispositivos as podaram, as estragaram; fizeram-nas crescer tortas. Talvez elas sejam impróprias para esse mundo. nunca conseguiriam ser em completitude consigo mesmas. não que elas tenham um estágio final ou que sejam superiores, mas que seus caminhos estão bloqueados. Resta-lhes renunciar ou se conformar.

(...)

Quando Camus diz que a questão mais importante está em escolher ou não viver a própria vida e tudo o mais é respondido em consequência disso, me parece que a máxima existencialista de que "o importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós", é cruelmente reafirmada por ele.

(...)

talvez nosso tempo já tenho acabado: é tarde demais para querer se tornar um adulto; para querer se tornar "alguém". nossa incompletude e imperfeição maior já estão dadas. não nos resta nada por fazer, apenas a melancolia decorrente. teremos que viver como crianças perdidas o que nos resta de tempo. In girum imus nocte et consumimur igni. Vagamos pela noite e somos consumidos pelo fogo.

(...)

Nada falta ao triunfo da civilização. Nem o terror político nem a miséria afetiva. Nem a esterilidade universal. O deserto não pode crescer mais: está por todo o lado. Mas pode ainda aprofundar-se. Perante a evidência da catástrofe, há os que se indignam e os que agem, os que denunciam e os que se organizam.

(...)

Outros virão. Não somos os primeiros; se tudo continuar tal e qual, com toda certeza não seremos os últimos. Até quando?

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Alguém escreveu o seguinte: The age of revolution may be over, but the age of refusal is just beginning.
Acredito que isso não é nenhuma referência ao john zerzan; nem mesmo que a intenção tenha sido a de fazer um prognóstico crítico-pessimista. O que quero realmente dizer é que essa constatação parece saber de algo que quem a escreveu não o sabia. Essa frase soa como um enigma no meio do texto. Um relâmpago inconsciente e esclarecedor sobre leituras mal digeridas, para logo em seguida voltar ao seu antigo domínio? haha Claro que não. Basta apenas que você alinhe essas duas frases para então ver um outro sentido nessa fala toda: (1) Que importa quem fala, disse alguém, que importa quem fala; (2) Plagiarism is necessary. Progress implies it. It holds tight an author’s phrase, uses his expressions, eliminates a false idea, and replaces it with just the right idea.
Agora volte ao começo.

domingo, janeiro 01, 2012

O suicídio é...

"... um ato de heroísmo." (Sêneca)
"... um ato próprio da natureza humana e, em cada época, precisa ser repensado." (Goethe)
"... a destruição arbitrária e premeditada que o homem faz da sua natureza animal." (Kant)
"... uma violação ao dever de ser útil ao próprio homem e aos outros." (Rousseau)
"... admitir a morte no tempo certo e com liberdade." (Nietzsche)
"... uma fuga ou um fracasso." (Sartre)
"... a positivação máxima da vontade humana." (Schopenhauer)
"... todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir este resultado." (Durkheim)