quinta-feira, junho 23, 2011

1
Antes de começar a escrever, eu olhei para minhas mãos. Elas estavam machucadas.
Ontem, deliberadamente sem motivo, eu levantei os braços para um alongamento rápido. Erro primário, olhe para onde se move. Havia uma trepadeira com espinhos avançando para fora da parede, crescendo para além do permitido. E foi assim, sem ver, sem saber, que eu invadi uma área antes livre, mas que agora estava ocupada por plantas pontudas e de poucas folhas. É estranho pensar nisso e tentar relacionar com a própria vida, com o momento presente e até com a condição atual de "humor". Você sabe: mão que escrevem, elas estão machucadas, coração partido e uma tristeza que não passa. Não algo muito grande, mas uma sensação de desconforto, de deslocação e incompatibilidade com outros. E logo, afastado por vontade própria, pela solitude, você se sente em um processo de alienação. Não estou falando de política ou da situação económica do país, estou falando em apatia e distanciamento passivo da vida social. Estou fazendo o que posso para não ficar assim, mas constantemente me percebo sem interesse e sem ânimo.
Você talvez não saiba, mas as mãos estão aí como extenção da vontade, do desejo. Levante a mão e pegue o que deseja, faça o que está nos seus pensamentos.Quanto a mim, agora não posso, já que minhas mãos estão machucadas. Talvez você entenda.

2
Nesse momento estou aqui. Nesse momento estou. Nesse momento.
Estou aqui me descontruindo pra você e tudo o que quer é só mais um pedaço de mim?
Quem diabos é você?

3
Pequenas coisas. Pequenos gestos.
Pequenas frases que você leu por aí.
(Talvez pequenas vidas.)
E você joga tudo fora.
Você não sabe ser de outro jeito.
Só quer o que acha que lhe pertence.

terça-feira, junho 07, 2011

Domingo foi um dia em que eu não existi
não fiz nada
nem deixei de fazer

não vivi,
e tão pouco pude morrer

ficar trancado em um quarto mal iluminado
não havia alternativa?

estar lá...
não estar...
tudo tão igual.

sentimentos que existem apenas em pensamentos

ninguém
para senti-los

depressão também dá em macacos

sozinho

escrever é a única ação válida

acho que ninguém entenderia.
querem cortar o assunto,
nivelar.
as respostas são ridículas.

melhor ficar quieto

esperar por mais tempo

sabe,
as "coisas" tem duração
e algo chegou ao fim.

palavras jogadas

dores de cabeça me impedem de pensar direito.
mal consigo escrever essas palavras
pra esquecer um pouco do resto.

imagens mal formadas aparecem
pra mim
lampejos tão fracos de vida
de vontade.

não poder escrever aquilo que
realmente se sente
não devo ter aquela chave...

ânimo de um cão batido

todos eles

pra quê continuar, afinal?

segunda-feira, junho 06, 2011

tente

tente dizer o que não pode escrever

tente dizer o que não pode escrever


há certos pensamentos que não saem com facilidade,
eles são tão sombrios que a consciência não os permite representação direta.
suas sombras podem ser percebidas em algumas ações,
mas ninguém vai poder dizer o que realmente são.

tente escrever o que não pode dizer.

você sabe, oh, sim! você realmente sabe. é só se esforçar um pouco e lá estará ele. Talvez um esforço maior. Um esforço gigante. Talvez isso te destrua por completo. Nem você pode aguentar. Algumas ideias e sensações. Sim! Não pense nisso agora, então. Deixe que ele venha quando for a hora. E a sombra tão negra sempre vêm. Seu olhar se perde em meio a isso. Quer tentar jogar? Você não pode nem mesmo se quisesse.
Agora é tarde.

Pegue um bilhete e entre na fila de espera. Um banco de praça e comida da feira. Meu braço, por que segura ele? só imaginando... abraço. E são todos tão brilhantes, tão maravilhosos. Espero que alguém acabe com aqueles sorrisos. Jogar bilhar. Vamos andar por aí, vai ser a melhor pedida, e o céu já está escurecendo. É maravilhosa a vista. Mesmo que só você possa ver. Estou falando sozinho aqui, como se estivesse tudo bem. Pensar geralmente tem me deixado triste. Ler algum livro, algum texto. levar a consciência para longe. Viajar para esquecer. É como se trancar em casa por uma semana e sair, parece que o mundo é outro. Que as coisas andaram sem você, e o pior foi enterrado, superado. Ser um estrangeiro, alguém sem passado com possibilidades de futuro. Se sentir velho e ao mesmo tempo novo. Renovado.
Acho que deverias passar um tempo fora.

o vento deve assoprar as folhas mais uma vez. Perder algumas delas para que sejam substituídas. Você deve entender.

Sozinho no quarto, até que enfim. Por quanto tempo?

Preciso ir agora.
Foi um prazer. Foi mesmo.
Desculpe
preciso respirar
me dê









me


estou

estou


por quê?

por quê?



você viu? você chegou


preciso r a cama

as pinceladas podem ser vistas

você eu você sou eu

escrevo de novo


pode ver? olhe
estou como
sempre quis


gosta agora? gosta do que vÊ?

espere mais tempo um olhe

as partes do papel cortado se misturam em um só
mas não é a mesma coisa

voc eu devo dizer

estamos aqui

olhando pra isso dever ser muito engraçado você quer que se foda

você é tão eu assim?
você é o quê? você é é isso

vou estourar não pode ver? e amanhã vai estar tudo bem
porque é sempre assim
cervejas antes e depois depois

logo logo

e direi mais uma vez: estou acabado

quem quer saber?

kafka, mosca,

Me lembre de contar aquela história depois
sobre se arrastar por um hospital com dores
e o velhote com orelhas manchadas é um ser mitológico
que se senta em sua sala e reina sobre o tempo
e sobre o destino

mais do que isso

ele é um burocrata
e ele abre a porta só quando é preciso
e trabalha como um guardião de ferro
ele lhe dirá quando passar,
mas até lá você pode não aguentar
o calor das máquinas.
sente e abra um volume da vida
cotidiana morta.
copos servem água
e você pode ouvir sons.
de onde vêm aqueles papéis na mão dele?

um arquivo gigante

folhas infinitas
o livro de areia
ferrugem extática
e gavetas a perder de vista.
é o inferno.
pior que isso, é um hospital.
buracos de ratos levam informações
você nunca vê nada
é tudo um sistema só

espere infinitamente
eles tem todas as suas informações
sabem mais sobre seu corpo
do que você mesmo
as suas doenças
estão na imaginação deles
lhe dirão que tem
assim como o que não tem.

dê uma volta.

comer é como ser algemado
tem algo dentro de você agora

você deve ser muito estranho.

"venha cá para lhe tirarmos
o sangue,
aplicar isso e aquilo"

você nem desconfia

"agora, vá para casa."

quando tiver que voltar,
você saberá.

eu

Sentar como um louco
e bater nas teclas
esperando.

é como assoar o nariz
mesma lógica. é igual

as coisas todas caminham para o esvaziamento

você pode ver?


pegue essa folhar em branco na sua frente
este pode ser o melhor poema do mundo,
porque ele é a forma última da expressão

a linguagem sempre buscou sua própria destruição,
até hoje.

Olhe ao redor
e você verá muito mais que isso.

mesmo que ninguém tenha realmente algo a dizer
eles querem dizer exatamente isso
com enxurradas de letras estúpidas.

agora você já sabe

domingo, junho 05, 2011

você poderia pegar minhas malas?

Precisa de uma cerveja desesperadamente,
cair por aí e dar um tempo.

é domingo de noite
e olhar pela janela é como se olhar no espelho

talvez
você ainda tenha algumas palavras
em um canto da boca,

as pessoas devem achar engraçado
estar puto da cara
elas mal devem poder sentir
algo de verdade.

o que dirão disso aqui?

olhar pra frente e dizer:
estou acabado
levantar a cabeça um pouco...
é tão difícil

ser um grande imbecil

o que tens agora?
sentir
ou
escolher?

era mais fácil antes.
de alguma forma


foi tão rápido.
algumas horas

a segunda vez

lembrar que passou a noite chorando
e ninguém nunca vai saber
talvez isso seja o pior

se uma árvore cai
e não há ninguém por
perto para escutar,
será que ela realmente fez barulho?

tem alguns cigarros no armário
mas você esqueceu de comprar o vinho
a cerveja não foi a única coisa que acabou.
não importa.

a noite sempre vêm.
o crepúsculo de tudo.
sempre.

o que você ia dizer mesmo?

linguagem?
o que tenho eu pra dizer agora?
colocar em palavras a confusão mental?

o significado não me serve,
a função fechada da palavra é a mim repressiva.

você pode até achar que isso é sobre recombinantes,
mas no fundo é um poema impossível sobre tristeza.

depois do fim tem a curva

Está tudo acabado.
ela não precisa mais de você.
as coisas se inverteram de alguma forma.

se sentir menor
exposto

você pode ver a cena
pode ler os pensamentos de pena
e ela diz alguma coisa
sobre você
à qual você nunca teve acesso,
não queria lhe aborrecer
mas agora ele sabe
e você só pode se torturar