domingo, julho 14, 2013
Carta a D. (7 de Maio de 2013)
você cortou sua fala bem no meio. Não acho chato ler isso, de forma alguma. É algo que eu sempre vou ouvir. Por experiência própria, aprendi a ouvir os outros – penso eu. Sei bem o que é essa sensação de falar sozinho. Tem aquela música, "um homem chamado alfredo", do cara que se mata de solidão e ninguém nem sabia o nome dele:
"Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê"
Sinto que, muitas vezes, ganha-se muito em não se buscar a companhia de ninguém, em ficar sozinho lendo um livro.
Quando você mais precisa de alguém, quando se está quase desesperado por uma conversa que seja, e você procurar isso, é aí que começa uma empreitada autodestrutiva.
Sim, eu escrevo há algum tempo já.
Bukowski escreveu uma vez: estas linhas que escrevo me afastam da loucura total. Cioran também disse algo próximo: uma obra é um suicídio adiado.
Talvez, por algum tempo, eu tenha escrito apenas para não deixar o ego morrer. E assim, escrevia para sentir que tinha alguma importância. E fiz isso para não ter que falar de mim para os outros.
Escrevo agora para organizar pensamentos, para entender o que eu sinto. Bom, no fundo ainda é para se manter.
E quanto às cartas, eu não sei como ou quando começou, talvez tenha sido apenas uma questão de percepção. Eu converso sozinho, e muitas vezes imagino que me dirijo à alguém, ou que estou em uma situação tal falando sobre algo específico para uma pessoa tal. É um dispositivo para o pensamento, algo que ajuda. Acho que um dia escrevi uma longa mensagem a alguém e mais adiante descobri que isso se assemelha bastante com a forma-carta.
Gosto de escrever um pensamento à alguém. Eu salvo algumas dessas mensagens que eu escrevo aos outros. Esta daqui eu vou salvar. Mas, sabe, nem sempre é bom mandar uma mensagem-carta aos outros. Tem gente que não tem/não quer dizer nada. E é insuportável mandar uma mensagem dessas, longa, trabalhada, e receber uma resposta indiferente. É muito desgastante – que tem a ver com tudo o que nós estamos falando.
"(...)Assim como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e eterna fumaça de carvão, - nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! - as Erínias novas, na porta da cabana que é minha pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, - Morte sem lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime bonito uivando na lama da rua."
(Cidade, Arthur Rimbaud)
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