"Science avec patience"
Que tempos estranhos são estes?
Aquele mesmo vazio – acho que ele já é uma parte minha
um parte que, faltando, se transformou em espaço.
Quando percebo, estou nele outra vez.
Como se tudo o mais fosse em vão.
Mas eu sei que não o é.
E Camille, Annie, elas estavam lá, aquilo tudo aconteceu.
Mas não foi minha falta se tudo acabou.
Alguma parte.
Mais uma vez é preciso dizer: não existe aquela pessoa,
ou aquele circulo de pessoas nos aguardando.
Esse é o grande ressentimento do nosso tempo.
Acredita-se nisso como se fosse um filme; é patético.
Posso dizer que fui a outros lugares,
e não encontrei nada que não conhecesse.
Já caminhei muito – engana-se quem pense que não.
Muito vi, muito conheci, e mais: muito conversei.
E nas linhas da desolação, nos abismo do tédio
Eu vi a nossa geração passar como quem troca de canal
Os mesmos daqui são os que caminham nas ruas,
Conhecia-os antes mesmo de os tocar.
Sua irrealidade é da mesma substância
Tão insossa quanto, e igualmente miserável.
Mas devo me incluir a eles?
Denunciá-los é esquecer-se de mim mesmo?
Há algo que nos liga a todos, mas há algo em ponto de ruptura.
Aqueles que me viram alto pelas ruas devem saber,
Minhas visões não são mortas,
memórias e sonhos
Ainda, devo dizer, estou cansado,
Verdadeiramente batido e com forças reduzidas
O mundo nos embrutece e nos tolhe a todos.
É impraticável uma vida que não se aprenda a se proteger
do sofrimento de toda esta deterioração
Aprendemos a nos proteger, aprendemos a ser indiferentes.
Mas não podemos nos entregar.
Difícil é imaginar beleza neste mundo horrível,
mas por que contribuir cinicamente com esta miséria?
Para não morrermos nos entregamos à morte em vida.
Que paradoxo estúpido e burro.
Por isso nos odiamos e nos estranhamos uns aos outros em toda parte
Deixamos de viver e procurando vida
dificilmente a encontraremos neste estado que é o nosso.
É preciso não se conformar cinicamente.
Odeio aqueles que assim se colocam de tão bom grado.
Resisto, mas não posso gastar toda uma vida assim
é preciso avançar, é preciso de cumplicidade
Que terrível busca
Envelheci muito em 4 anos
Calejado pelo tempo, já não somos tão sensíveis à vida
Algumas experiências não nos aprazem tanto
Outras perderam momentaneamente o significado
Seguirei, porém, neste caminho
Sem rumo e sem coordenadas
Já não sei aonde me dirijo – se é que me dirijo para algum lugar
As perspectivas são escassas; a situação é catastrófica
Mas não é grave.
Escrevo, contudo.
Minha impertinência ainda me levará a algum lugar.
Isto não deve ser dito com esperança,
mas apenas com alguma lógica.
"E, ao amanhecer, armados de uma ardente paciência, adentraremos na cidade esplêndida"
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