segunda-feira, outubro 12, 2015

uma palavra
a primeira delas
foi sempre assim

comece um texto com aquilo que
soe bem no momento
que pareça ser o motivo de se estar escrevendo

Nada disso é poesia
como se costumava ser

geração beat sem a literatura
de perspectivas rebaixadas

lamento
confissão

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menos que um lamento
menos que uma confissão

não chega a ser respiro
pois não injeta ar
quando muito, uma descrição
senão, sobra só o barulho silencioso da página
grunhido desperdiçado
soluço perdido.

um contar para ninguém
perder forças
dizer e não dizer ao mesmo tempo
para não sucumbir
autoajuda morna

ainda:
manter-se na solidão

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Escrever é guardar
quem nos lê?

auto-engano

quando todos podem falar
em um mundo que nos mantêm separados
e longe do político
escrever é auto-engano
mimetizar no particular
que somos
que podemos
algo.

quem lê?
senão para matar o tempo
escrever teses
que ninguém lê

"os bons livros devem ser copiados nas paredes"

Se escreve quando não se pode falar
quando não se sabe a quem confiar

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Carta aberta para...
resposta à carta aberta para...

Longos textos estúpidos que recomeçam toda a conversa
já que não havia nenhuma mesmo

se escreve como se fala
um amontoado de coisas
finge-se proximidade
que estamos na mesma sala e que nos escutam

consumir-se em palavras
afogar-se em palavras
vazias
lugares comuns
dizer de novo
o que todo mundo quer
dizer escutar

os lugares estão tomados
pelo que todo mundo já disse
por aquilo que já se fixou

mas cada um quer
na sua vez
sentar na cadeira
e dizer
ser entrevistado
subir no palanque
e dizer
não para ser ouvido
mas para ser visto
aplaudido
um pouco

falsa modéstia

no fundo, acredito
que sou alguma coisa

quem lhe dirá que não?

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